quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A esquerda no Amapá: PSOL discute aliança com grileiro e Camilo leva apoio ao MST

Dois momentos e as contradições da política tucuju

O blog demorou, mas não poderia deixar de fazer esse um registro importante. A política tucuju revela contradições gritantes entre lideranças e partidos que são considerados de esquerda no Amapá. 

Se por um lado o governador Camilo Capiberibe (PSB) na semana passada (14/02) foi levar apoio do povo amapaense ao 6º Congresso do MST, reforçando a luta desse importante movimento pra construirmos um país menos desigual no que tange a democratização do acesso a terra na perspectiva de construir uma reforma agrária popular que fortaleça a agricultura familiar, por outro lado o PSOL que tem como candidato a presidência da república o senador eleito pelo Amapá Randolfe Rodrigues, se reunia no mesmo dia com o pré-candidato ao governo Jorge Amanajás (PPS) para debater alianças eleitorais

Até aí tudo bem porque o PSOL e o PPS se merecem já que os dois partidos fazem oposição ao governo do PT de Dilma,  mas a contradição estão no fato de o ex-presidente da Assembleia Legilativa, Jorge Amanajás ser acusado de grilagem de terras no Amapá, além de árduo defensor do agronegócio por meio do plantio de soja e arroz nas nossas terras tucuju junto com o deputado estadual Eider Pena. 

O registro do encontro entre o senador Randolfe Rodrigues e o prefeito Clécio Luis, lideranças do PSOL com as lideranças do PPS, Jorge Amanajás e o vice-prefeito de Macapá Allan Sales, foi comemorado com confetes e serpentinas pelo blog Repiquete no Meio do Mundo da jornalista Alcilene Cavalcante, amiga dos ensolarados. Faço questão de registrar a fonte para que depois não digam que isso é intriga de um blogueiro que nunca escondeu que é filiado do PT.
Postagem mostra reunião onde PSOL discute aliança com ex-deputado acusado de grilagem de terras no Amapá
Mas não é apenas o aliancismo eleitoral que revela que Randolfe Rodrigues não pratica o que pregou na TV em programa partidário nacional do PSOL no mês passado quando condenou os juros exorbitantes aos banqueiros e defendeu a Reforma Agrária no Brasil. O PSOL no Amapá é aliado de grileiros de terras que nos últimos dias por meio do lobby pesado dos "grileiros do colarinho branco" fizeram uma verdadeira ofensiva pra revogar a lei estadual que criou a Floresta Estadual do Amapá (FLOTA, alvo da cobiça desenfreada de madeireiros e desses setores que o PSOL se alia.

O fato é que o PSOL no Amapá não se posiciona sobre esse tema que os coloca no mesmo cesto ao lado de grileiros. E não se posiciona porque tem acordos espúrios com o PPS que no Amapá é comandando por um grileiro assumidamente defensor do plantio de soja, enquanto que a maiora da esquerda nortista defende um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.

Mesmo o MST não existindo no Amapá, o governador do PSB foi a Brasília prestar apoio ao MST porque sabe que a luta do movimento é importante. Mas o atual governo tem enfrentado o bombardeio midiático dos setores da mídia aliada aos grileiros, principalmente por meio do deputado estadual Eider Penas (PSD), que na Assembleia tem desconstruído a importância da Floresta Estadual e pediu por várias vezes a revogação da lei porque fere os interesses daqueles que querem expandir o seu quintal e continuar grilando terras no Amapá.

O que chama atênção é omissão do PSOL e Randolfe Rodrigues nesse debate porque do ponto de vista nacional se diz defensor da Reforma Agrária, mas do ponto de vista local se banqueteia na mesma mesa farta de grileiros como Jorge Amanajás, sócio do deputado Eider Pena na fazenda Lago Azul. Na verdade a atual conjuntura da luta de classes deveria unir a esquerda em torno do combate aos grileiros que querem acabar com a Flota, que será importante pra manter a vida dos povos tradicionais, ribeirinhos, índios e quilombolas que vivem no território da Flota que engloba diversos municípios do Amapá.

Mas parece que o interesse maior do PSOL no Amapá não é a luta de classes, mas sim o pragmatismo eleitoral e isso é gritante em suas alianças, algumas piores do que a do PT que eles tanto condenam. Sem falar que até o presente momento o PSOL não se posicionou firmemente contra uma possível candidatura de reeleição de José Sarney, ficando inclusive atrás do PT que já até apresentou o nome da vice-governadora Dora Nascimento pra disputar o cargo.

O fato é que a extinção ds Flota, apoiada pelos aliados de Randolfe Rodrigues pode iniciar um grande conflito fundiário entre os povos tradicionais e a agricultores e os grileiros de terras que já mantém relações com empresários do agronegócio do Mato Grosso.

Será que a ex-deputada Luciana Genro, que deverá ser a vice na chapa do presidenciável Randolfe Rodrigues concorda com esse tipo de aliança e vai aceitar dividir palanque no Amapá com grileiros de terra. Mas no Amapá tudo é possível, até boi voar em outubro!

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