O governador Camilo Capiberibe (PSB) tem tido dificuldades em construir a governabilidade necessária com outros poderes, principalmente com a Assembléia Legislativa (AL), principal poder onde são tomadas as decisões que refletem diretamente na vida do povo, quando o assunto são projetos e recursos públicos que serão destinados as principais áreas sociais do governo.
A dificuldade em construir uma maioria sólida no legislativo é um reflexo do fisiologismo político da maioria dos deputados estaduais, acostumados com a “velha política” tradicional do “toma lá dá cá”, principal instrumento utilizado pelo Executivo no famigerado governo da “harmonia”, onde a AL silenciava até mesmo diante do papel de fiscalizar as ações do governo.
A fatura para que Camilo Capiberibe construa maioria sólida para aprovar os projetos do Executivo é cara, já que em troca, teria que abrir o governo e fazer concessões para que os partidos ou deputados tivessem liberdade para fazer das pastas indicadas verdadeiros feudos eleitorais. O que não aconteceu na relação com os deputados do PPS (Valdeco e Jaci Amanajás) e com o PV do deputado Zezé Nunes, que acaba de anunciar sua saída da base aliada e já vai tarde como diz a velha frase. O PV já não votava com o governo faz tempo e sua saída não se dá por uma ruptura programática e ideológica, mas pela ausência do governo em atender os interesses fisiológicos de seus caciques. O governador não quer que secretarias indicadas por partidos aliados se tornem um balcão de negócios.
A mesma dificuldade encontrada por Camilo Capiberibe diante do apetite dos aliados por mais cargos não é uma problemática local, já que a presidenta Dilma também enfrenta os mesmos problemas com os aliados tradicionais. Mas se o governo não pode construir uma governabilidade com deputados fisiológicos, quais seriam as alternativas? Está aí o erro do governo, que não tem o apoio dos movimentos sociais ou da imprensa (também chamada de quarto poder).
A falta de apoio dos movimentos sociais
O governo Camilo Capiberibe encontrou dificuldades para dialogar com a sociedade civil no seu primeiro ano de mandato, mas parece que em 2012 tem acertado e avançado nas rodadas de negociações com o sindicalismo do setor público (Sinsepeap e Sindesaúde), mesmo que algumas das pautas de reivindicações das duas maiores categorias do Estado não tenham sido acatadas até o momento pelo GEA, espera-se que este ano não aconteça greve. Até mesmo porque as lideranças que estão à frente dos sindicatos têm mostrado bom senso em algumas dificuldades orçamentárias encontradas pelo Executivo.
O fato é que ambos os sindicatos também deixaram a desejar quando o assunto foi a disputa pela partilha do Orçamento na ALAP no final de 2011.Ambos se calaram e cruzaram os braços, deixando que o assunto fosse tratado como uma “briga” entre o governador e os deputados. Está aí é um dos erros dos sindicatos e do próprio GEA que não conseguiu atrais essas categorias para os embates necessários com os nossos deputados fisiológicos. O resultado todos nós já sabemos: derrotas em cima de derrotas.
Mas a principal problemática do governo está na falta de mobilização de um segmento da sociedade crucial para os embates político-ideológicos contra a oposição corrupta e de direita: a juventude.
A juventude do partido majoritário do governo (PSB) tem criado dificuldades na relação do GEA com outras juventudes partidárias e entidades representativas dos estudantes: UNE, UBES, DCE´s e Grêmios Estudantis. Estas organizações aliadas a setores do movimento sindical deveriam ser o carro-chefe na defesa de um governo democrático popular, dirigido pelos três principais partidos de esquerda (PSB, PT e PCdoB). Diferentemente da unidade das organizações juvenis de esquerda na defesa do governo Dilma, na realidade local as mesmas organizações não estão sintonizadas na defesa do governo Camilo Capiberibe. E isso é um problema sério para um governo que não quer fazer concessões ao parlamento, já que precisa do apoio da juventude e outros movimentos sociais para pressionar outros poderes e construir a chamada “governabilidade social”.
As dificuldade são notórias quando não se ver a UNE, UBES, DCE´s e Grêmios Estudantis irem às ruas quando a ALAP aprova um orçamento que retira recursos do Executivo, prejudicando a educação, saúde e conseqüentemente a classe trabalhadora e a juventude.
A CUT que poderia ser o grande elo de diálogo do governo com os sindicatos e outras centrais também se encontra estática, já que não é chamada para as mesas de negociação tirando sua legitimidade como a maior central sindical da América Latina. O erro do governo é não eleger um secretário ou assessor que tenha esse papel de dialogar e aglutinar o poder de fogo da CUT e outros movimentos sociais.
Outro motivo da CUT ficar na “moita” é que o PT dirige a entidade e nos bastidores, setores do partido estar descontentes com o tratamento do Palácio do Setentrião a alguns de seus gestores ligados ao campo majoritário do partido. O certo é que o governo precisa urgentemente sentar à mesa e resolver esses problemas, pois governo de esquerda de orientação democrática e popular que não tem apoio dos movimentos sociais não se sustenta por muito tempo e a oposição golpista está aí viva como nunca para conspirar no parlamento e na mídia a derrubada do governador.
A blindagem do governador
Um problema sério que lideranças, partidos aliados e entidades dos movimentos sociais têm encontrado na relação com o governo é a blindagem que foi criada para que as reclamações do tratamento muitas das vezes desrespeitoso dado aos aliados cheguem ao governador, afinal tem muito assessor com medo de perder seu cargo. A blindagem dificulta a construção da governabilidade social necessária para o enfretamento com a oposição.
Não há dúvidas que o governo a cada dia se mostra competente e tem mudado a realidade encontrada pelo atual governador. Pegar um Estado arrasado pela corrupção e desmandos de oitos anos de governo de “harmonia” e mudar essa realidade em menos de dois anos não é pra qualquer um, mesmo com as inúmeras dificuldades do embate permanente com o parlamento.
Mas é preciso que o governador e sua equipe de governo mudem essa lógica de se fechar aos movimentos sociais e adote outra estratégia de tê-los como aliados e não como dor de cabeça em alguns momentos. O debate está colocado e cabe ao governo essa reflexão.
2 comentários:
Estou de acordo com a análise.
Luiz Pingarilho
"fazer concessões para que os partidos ou deputados tivessem liberdade para fazer das pastas indicadas verdadeiros feudos eleitorais. O que não aconteceu na relação com os deputados do PPS (Valdeco e Jaci Amanajás)"
É mesmo??? Sério???
Quem é o diretor do HEMOAP? Há quantos anos o HEMOAP está sob o comando de Amanajás? Ô instituto pra "dar sangue"...
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