sábado, 28 de abril de 2012

Repórter corrige reportagem sobre Camilo



Chico Bruno no Direto da Varanda

Há três semanas, a revista ÉPOCA publicou reportagem, assinada pelo repórter Marcelo Rocha, dizendo que o governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB) possuía 35 contas bancárias.
Na edição desta semana, o mesmo repórter, assina reportagem na ÉPOCA para repor a verdade, mas ainda mantém algumas inconsistências do texto anterior.
Marcelo abre a reportagem citando a ida de Camilo ao STJ, onde foi prestar esclarecimentos justamente depois da reportagem da revista, que vazou dados de inquérito que estão sob segredo de justiça.
Seletivamente o texto trazia apenas o capitulo sobre o ex-deputado estadual e atual governador do Amapá. A reportagem não fazia referência a nenhum outro nome, entre tantos que fazem parte do inquérito.
“Na semana passada, o governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), esteve em Brasília para falar por 20 minutos. Capiberibe fez a longa viagem para prestar um curto depoimento ao ministro João Otávio Noronha, no Superior Tribunal de Justiça (STJ)”.
Ainda no primeiro parágrafo, Marcelo reproduz a reportagem anterior afirmando que Camilo “é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal por uso irregular do dinheiro público. Ao lado de outros políticos de seu Estado, Capiberibe é acusado de apresentar notas fiscais frias para justificar o recebimento de verbas para viagens durante o exercício do mandato de deputado estadual, entre 2007 e 2010”.
No segundo e terceiro parágrafos, é que o repórter aborda o tema que deu título à reportagem passada.
“A investigação foi tema de uma reportagem de ÉPOCA três semanas atrás. O texto afirmava que a Polícia Federal descobrira que Capiberibe aparecia como titular de 35 contas bancárias – informação baseada em documentos oficiais, entre eles um relatório do Banco Central (BC). Capiberibe contestou os dados da reportagem. O governador pediu informações sobre si mesmo a três bancos e forneceu a ÉPOCA um documento elaborado por um advogado a partir dos mesmos dados do Banco Central. Os papéis dizem que Capiberibe tem oito contas ativas – outras 17 já foram encerradas”.
“Uma análise técnica mostrou que a planilha do BC obtida por ÉPOCA citava algumas contas mais de uma vez. Capiberibe pediu esclarecimentos sobre seu histórico bancário ao Banco Central. O BC, no entanto, não forneceu dados ao governador. Num ofício de três páginas, o BC afirma estar impedido de enviar-lhe as informações porque a investigação corre sob segredo de justiça. Diz ainda que o governador deve pedir as informações sobre suas contas à Justiça. Procurado por ÉPOCA, o BC também não se manifestou sobre o assunto”.
Na reportagem desta semana, Marcelo afirma que “o Poder Legislativo do Amapá, um dos Estados mais pobres do Brasil, paga a mais alta verba indenizatória: R$ 100 mil mensais para cada legislador”, mas não informa que este é o valor da atual legislatura e não da anterior, quando a verba indenizatória era infinitamente menor.
Aliás, a verba indenizatória, apesar de reduzida, mês passado, para R$ 50 mil, continua a maior do país.
Essas inconsistências no texto demonstram que o repórter não se preocupou em se aprofundar no assunto.
Finalmente, como fazem ultimamente alguns órgãos de imprensa, o repórter ouviu o “outro lado”, no caso o governador.
“Procurado por ÉPOCA, Capiberibe afirma que "gastou a verba indenizatória de representação no exercício da atividade parlamentar". De acordo com ele, seu depoimento foi tomado pelo STJ apenas por ele ter pertencido à legislatura anterior, e todos os outros deputados investigados também serão ouvidos. Ele afirmou ainda que não lhe foram pedidos documentos para comprovar as despesas”.
Resumo da ópera.
Para quem lê a reportagem, fica claro que o repórter escreveu o novo texto meio a contragosto, tanto que remoeu seu texto anterior, quando deveria esclarecer com mais profundidade o episódio de envolvimento de Camilo na Operação Mãos Limpas.
Mesmo assim, fica claro que a reportagem de três semanas atrás de ÉPOCA foi produzida sem a devida apuração, o que está se tornando um fato corriqueiro do jornalismo brasileiro.
O mais grave é que isso é feito tendo como escudo a liberdade de imprensa e às vezes a liberdade de expressão. 

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