O SR.
JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB – AP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do
orador.)
Sr.
Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ouvintes da Rádio Senado,
telespectadores da TV Senado:
Trago
aqui a esta tribuna um tema muito importante para a sociedade brasileira no
geral e, em particular, para o povo do Amapá. Ontem, o Tribunal de Justiça do
Amapá, pela primeira vez na história, recebeu denúncia do Ministério Público
contra deputados estaduais.
Por
unanimidade, os desembargadores do Tribunal de Justiça do Amapá receberam
denúncia formulada pelo Ministério Público do Estado contra os Deputados
Estaduais Moisés Souza e Edinho Duarte, além dos demais envolvidos em fraude
entre a Assembleia Legislativa e a Cooperativa de Transporte de Veículos Leves
e Pesados do Estado do Amapá (Cootram).
Para o
Ministério Público do Amapá, os Deputados Moisés Souza e Edinho Duarte
comandaram um esquema criminoso que resultou no desvio de mais de R$5 milhões
dos cofres públicos da Assembleia Legislativa, em contratos fraudulentos com a
Cootram para locação de veículos leves e pesados.
Na
denúncia, a Procuradora-Geral do Ministério Público Ivana Cei afirma que os
parlamentares ordenavam e assinavam os cheques indevidamente pagos. Nesse mesmo
período, os deputados gastaram mais de R$5 milhões com aluguel de veículos,
pagos com verba indenizatória.
Embora
a defesa dos acusados tenha alegado que o Ministério Público não poderia
conduzir o procedimento investigatório contra parlamentares, a Relatora,
Desembargadora Sueli Pini – aqui, eu destaco que é a primeira mulher a chegar
ao desembargo no Amapá –, com base em entendimento majoritário do Supremo
Tribunal Federal, manifestou que a Polícia Judiciária não tem o monopólio da
ação penal, sendo, portanto, perfeitamente possível que a investigação seja
conduzida por promotores.
Sobre o
afastamento dos réus de suas funções, a Relatora esclareceu em seu voto o
seguinte:
(...) os denunciados teriam formado um poderoso grupo organizado
com o escopo de apoderar-se de recursos dos cofres públicos através de pseudo contratos
celebrados com a Assembleia Legislativa do Amapá, motivo pelo qual mantê-los
afastados de quaisquer funções que poderiam, em tese, facilitar-lhes a reiteração
das condutas delituosas ou mesmo a ocultação de provas ou a intimidação de
testemunhas é medida que se impõe como garantia da própria atuação judicial
(...).
Por
maioria, os desembargadores decidiram manter o afastamento dos réus. Eles
responderão pelos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha,
peculato, falsidade ideológica, fraude em licitações, corrupção passiva e
falsidade documental.
Os
acusados são: Moisés Reategui de Souza, ex-Presidente da Assembleia
Legislativa; Jorge Evaldo Edinho Duarte, Secretário-Geral da Mesa; Lindeberg
Abel do Nascimento, ex-comandante da Polícia Militar, que servia como assessor
da Assembleia Legislativa; Edmundo Ribeiro Tork, Janiery Torres; José Maria
Miranda Cantuária; Rogério Cavalcante; Ednardo Tavares de Souza, filho do
ex-desembargador que se aposentou no começo deste ano; Gleidson Luiz Amanajás
Silva; Vitório Miranda; Fúlvio Sussuarana; Fran Soares Júnior, ex-Presidente da
Assembleia Legislativa; Elton Silva Garcia; Danilo Góes de Oliveira; José d a
Costa Góes Junior; Sinésio Leal da Silva e Antônio Basilízio Lima da Mata
Cunha. São essas as pessoas que respondem a processo criminal perante o
Tribunal de Justiça do Amapá.
E, na
esteira dessa decisão, eu gostaria de tecer alguns comentários sobre a execução
orçamentária e financeira do Amapá dos últimos 17 anos.
Eu fiz
um levantamento dos gastos da Assembleia Legislativa do Amapá, de 1994 a 2012,
ou melhor, a 2011, e também do Tribunal de Contas do Estado.
COMPARATIVO
DOS GASTOS X GASTOS CORRIGIDOS(INFLAÇÃO)
ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA
|
|||
Ano
|
Gasto
anual AL
|
Gasto
anual AL corrigido
|
Inflação
|
1994
|
13.392.694,71
|
44.854.582,36
|
|
1995
|
26.515.907,64
|
72.554.428,90
|
22,4
|
1996
|
30.113.688,20
|
75.181.472,17
|
9,6
|
1997
|
28.292.136,95
|
67.142.404,18
|
5,2
|
1998
|
24.562.751,76
|
57.317.495,11
|
1,7
|
1999
|
24.321.661,08
|
52.116.535,29
|
8,9
|
2000
|
24.205.929,00
|
48.932.588,88
|
6
|
2001
|
26.016.883,85
|
48.833.293,23
|
7,7
|
2002
|
32.715.621,09
|
54.583.751,65
|
12,5
|
2003
|
45.170.537,94
|
68.951.435,70
|
9,3
|
2004
|
45.117.747,62
|
64.006.368,87
|
7,6
|
2005
|
72.976.438,17
|
97.945.267,05
|
5,7
|
2006
|
88.253.197,63
|
114.887.446,47
|
3,1
|
2007
|
91.197.700,18
|
113.608.211,48
|
4,5
|
2008
|
99.567.675,52
|
117.124.633,42
|
5,9
|
2009
|
90.687.352,73
|
96.582.030,66
|
4,3
|
2010
|
125.553.599,72
|
133.714.583,70
|
5,9
|
2011
|
101.896.192,14
|
101.896.192,14
|
6,5
|
Fui eleito governador em 1994,
entre 15 de novembro, dia da eleição e 1º de janeiro quando assumi o governo, a
Assembleia Legislativa e o governador que estava saindo, remanejaram os
recursos que estavam destinados para investimento no de 1995, transferindo-os para
a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Contas do Estado, fazendo com que, em
valores nominais, os gastos da Assembleia Legislativa, que foram que R$13.392.694,71,
em 1994, saltassem para R$26.515.907,64, no ano seguinte, com a inflação já sob
controle.
Os gastos do Tribunal de Contas
foram mais longe ainda, saltaram de R$ 4.275.514,76 para R$13.729.082,18. Em
função desse golpe orçamentário o Estado foi condenado a ficar sem investimento
durante muitos anos.
COMPARATIVO DOS GASTOS X GASTOS CORRIGIDOS(INFLAÇÃO) DO TRIBUNAL
DE CONTAS DO ESTADO
Ano
|
Gasto
anual TCE
|
Gasto
anual TCE corrigido
|
Inflação
|
1994
|
4.275.514,76
|
14.319.480,36
|
|
1995
|
13.729.082,18
|
37.566.344,34
|
22,4
|
1996
|
14.790.315,70
|
36.925.324,48
|
9,6
|
1997
|
14.479.843,43
|
34.363.310,97
|
5,2
|
1998
|
16.239.672,00
|
37.895.482,13
|
1,7
|
1999
|
16.457.166,10
|
35.264.469,60
|
8,9
|
2000
|
15.415.576,00
|
31.162.780,11
|
6
|
2001
|
20.558.857,00
|
38.588.660,27
|
7,7
|
2002
|
19.305.858,00
|
32.210.489,16
|
12,5
|
2003
|
26.611.708,88
|
40.621.954,43
|
9,3
|
2004
|
20.113.853,03
|
28.534.551,57
|
7,6
|
2005
|
30.822.248,09
|
41.368.055,17
|
5,7
|
2006
|
40.631.656,33
|
52.894.029,53
|
3,1
|
2007
|
41.405.114,92
|
51.579.821,02
|
4,5
|
2008
|
53.432.335,04
|
62.854.160,47
|
5,9
|
2009
|
45.605.059,70
|
48.569.388,58
|
4,3
|
2010
|
60.670.008,00
|
64.613.558,52
|
5,9
|
2011
|
36.467.828,00
|
36.467.828,00
|
6,5
|
Lembro
que, em 1995, todas as obras do Estado pararam. Se compararmos os gastos da
Secretaria de Infraestrutura, encarregada dos investimentos em obras de saúde,
educação, segurança e administração, construindo hospitais, centros de saúde, escolas,
prédios para a Administração, delegacias, penitenciárias etc, essa Secretaria que
em 1994 investiu R$ 40 milhões, caoiu para 3,5 milhões em 1995, meu primeiro
ano de governo.
A mesma
coisa aconteceu no setor de transporte. A Secretaria de Transporte que investiu
R$ 21 milhões em 1994, no ano seguinte não chegou a R$ 4 milhões. O Estado parou
nas minhas mãos por causa dessa manobra.
Essa
manobra – pasmem, Srs. Senadores, Srªs Senadoras e os que estão me ouvindo –,
que me parece uma prática corrente em nosso País, fez com que, de 1994 até
2012, a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Contas tenham gasto, além da
necessidade da sua manutenção, algo em torno de R$100 milhões por ano. Neste
ano, a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Contas devem atingir gastos da
ordem de R$200 milhões, quando, na verdade, com R$100 milhões teriam um desempenho
impecável, tanto um como outro. São 17 anos com um desvio sistemático de algo
em torno de R$100 milhões por ano, que perfazem R$1,7 bilhão.
O
Governo do Amapá junto com o Governo Federal estão construindo 5 mil
habitações; e habitações de boa qualidade. O conjunto dessa obra, dotada de
toda infraestrutura – escolas, segurança, saúde – chega em torno de R$300
milhões. Esse R$1,7 bilhão teria resolvido, nesses17 anos, o problema
gravíssimo de habitação que enfrentamos
hoje, com milhares de famílias morando em áreas alagadas. Com essa fortuna daria
para construir, no mínimo, 20 mil habitações; e mais, sobraria para dotar todas
as cidades do Estado de água e esgoto.
Então,
o desvio dessa fortuna, condenou o povo do Amapá a ficar sem água tratada,
durante esses anos todos, e também sem habitação e esgotamento sanitário.
Todo mundo sabe que no dia 10 de
setembro de 2010, uma operação da Polícia Federal no Amapá levou para a prisão
as principais lideranças daquele momento: o ex-Governador Waldez Góes; a
primeira-dama Marília Góes, o Governador em exercício Pedro Paulo; o Presidente
do Tribunal de Contas Júlio Miranda. E este ano, a Justiça voltou a agir
afastando cinco conselheiros do Tribunal de Contas; e agora o Tribunal de
Justiça confirmou em definitivo o afastamento do Presidente da Assembleia
deputado Moises Sousa e o Secretário-Geral da Mesa deputado Edinho Duarte, ambos
afastados por decisão monocrática da desembargadora Sueli Pini desde o mês de
maio, se não me engano.
Tive o cuidado de levantar e
analisar a contabilidade do Tribunal de Contas do Estado dos últimos 3 anos. Em
2010, ano da operação Mãos Limpas, o TCE, com apenas um prédio de quatro
andares pra manter, gastou R$ 64.613.558,52, um ano depois, no exercício de
2011, esses gastos despencaram para R$ 36.467.828,00.
Como se
explica, de um ano para o outro, essa queda tão drástica nas despesas do TCE? É
simples, em 2010, a operação da Polícia Federal, além de prender o Presidente, fez
busca e apreensão na sede do TCE, dando um basta no desvio dos recursos. Em
2011, a nova direção do Tribunal passou a ter um cuidado maior na aplicação dos
recursos e os gastos de um ano para o outro diminuíram em R$ 28.145.730,50. Esse
dinheiro passou a engordar os saldos financeiros do Tribunal no exercício de
2012, e por não haver previsão orçamentária teria que ser devolvido, o que não
aconteceu até o presente. Soube ultimamente que uma parte desse dinheiro foi
usado para recolher o imposto de renda dos servidores, retido ao longo de
muitos anos, e não entregue ao fisco.
Hoje, a situação da Assembleia
Legislativa é semelhante a do Tribunal de Contas. Depois da ação enérgica do
Ministério Público Estadual, dificultando, sobremaneira, o desvio do dinheiro,
tem-se notícia de que Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, esse ano,
acumulou um volumoso saldo financeiro sem ter em que gastar. Que absurdo! A
comunidade ser penalizada exatamente por aqueles que escolheu para representá-la,
pior, em cumplicidade com a instituição, no caso o TCE, que deveria zelar pela
correta aplicação dos seus recursos, afinal essa é a função dos Tribunais de
Contas, instituídos em nosso País para cuidarem da res publica e não
para se locupletarem com os recursos do contribuinte.
Essa é uma questão que ainda vai
ter novos desdobramentos, porque a sociedade do Amapá, o povo do Amapá só agora
está tendo conhecimento desses fatos.
Como é possível, um desvio anual de
recurso da ordem de R$100 milhões? A Assembleia Legislativa do Amapá, com 24
parlamentares, não poderia ter um custo acima de R$ 3 milhões por mês. A Câmara
de Vereadores do Município de Macapá, que tem 17 vereadores, consome R$14
milhões por ano; enquanto isso, a ALAP gasta R$13 milhões por mês. Basta essa
comparação para chegarmos à conclusão de que povo do Amapá, ao longo de sua
história, ao longo dos últimos 17 anos, foi duramente penalizado pelo
comportamento das suas lideranças.
Finalmente reconheço a ação
determinante do Ministério Público Estadual e a sábia decisão do Tribunal de
Justiça do Amapá. Essa decisão, repito, é histórica, e fundamental para a
sociedade que precisa ver a justiça triunfar, e mais ainda para nós políticos,
porque, uma das estratégias do político corrupto é promover a confusão e a
desconfiança afirmando que somos todos iguais nos empurrando pra vala comum para
que não haja esperança. A impunidade é a principal aliada do político corrupto.
Subi a esta tribuna para destacar o feito do Ministério Público do Estado, que
apresentou a denúncia, e do Tribunal de Justiça, que acatou essa denúncia.
Somente
com um Judiciário operante, ágil, eficaz, que julgue com rapidez e que não
tolere a impunidade, nós podemos separar o político correto, o político
decente, do político desonesto e que causa danos irreparáveis à sociedade.
Era
isso, Sr. Presidente.
Muitíssimo
obrigado.
Obrigado,
Srs. Senadores.
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