Este momento, pré-eleitoral de 2012, apresenta um instigante xadrez político: uma riqueza de possibilidades de coligações (inclusive, por misturas exóticas) e de candidaturas a prefeito e vice-prefeito de Macapá. Tal riqueza de possibilidades traz em seu bojo, mais do que nunca, uma centralidade da maior relevância – refere-se sobre a questão da combinação de projeto-político a um projeto de Estado (ambos duradouros), e aos reflexos político que deixará como herança às eleições de 2014.
Sem exagero, é até lugar comum, a qualquer pessoa minimamente instruída, que o resultado das urnas deste 2012 (tanto de Macapá como de Santana) irá facilitar ou dificultar a reeleição de Camilo ou, de modo análogo, facilitar ou dificultar a eleição de um político de oposição, ao Setentrião, caso não apareça no percurso 2012-2014 nenhuma variável emergente. Mais, também, é tradicional o fato das lideranças que detém o poder de decisão de darem pouca ou nenhuma importância quanto à influência do resultado de uma eleição à outra, à subsequente.
É provável que a oposição (ou as oposições) ao governo estadual acredite(m) na possibilidade de vencer(em) a disputa, em 2014, medindo forças com o enorme poder material dos três maiores orçamentos do Amapá - o do Executivo estadual, o da Capital e o da prefeitura de Santana - e se divida(m) e se esfacele(m) em mais de uma candidatura nos próximos pleitos eleitorais municipais. Todavia, salvo alguma variável que possa vir a emergir, tal olhar (e acreditar) não seria outra coisa, senão um equívoco estratégico, seguido de inevitável suicídio político-eleitoral.
E Camilo, qual a dele? Dará, ele, asas às oposições?
Setores das oposições contam com peso de mídia, finanças (de origem tanto interna como externa) e, acredite quem quiser, estão mais que audaciosas e determinadas; tanto que, desenvolvem ações políticas inteligentíssimas - a exemplo de Randolfe e Gilvan, o primeiro, por via indireta e subterrânea, o segundo, de modo estridente e espalhafatoso. Então. Se as oposições se apresentarem unificadas à eleição (de 2014) e estiverem na condição de gestoras dos orçamentos públicos de Santana e Macapá (e vieram a contar com certos apoios “invisíveis” de aparelhos do Estado) podem dar muita dor de cabeça ao governador Camilo. E poderão, mesmo, derrotá-lo, quando da possível recandidatura dele, em 2014.
Camilo pode até não acreditar, nisso tudo. Entretanto, se ele optar por dar uma de São Tomé (e, assim venha a dar asas pras oposições, leia-se, Randolfe, Lucas, Waldez e Gilvan, por hora) poderá dar um tiro no pé! Referido tiro no pé vale, também, para as oposições, caso elas apresentem-se apartadas aos próximos pleitos eleitorais municipais. E aqui, neste ponto da análise cai, como uma luva, uma evocação a Cícero: “a História é a mestra da vida”.
E como mestra, no Amapá, a História tem demonstrado que, toda vez que um setor do espectro político se divide e o outro espectro se unifica, o lado que se unifica ganha a eleição [exceção feita a 1990 (uma vez que, houvera unificação nos dois setores - situação unida contra oposição unida); a 1996, dado que Barcelos despontou como uma fortaleza imbatível, época na qual Macapá não usufruía do 2º turno; e, a 2004, quando houve fragmentação generalizada em todos os setores] de modo que, perderam eleições os lados que se fragmentaram em 1988, 1992, 1994, 1998, 2000, 2002, 2006 (caso atípico), 2008 (caso inusitado) e 2010 (desarmonia da Harmonia).
É fato, que, ainda não estão definidos os contornos que caracterizarão a conjuntura eleitoral, por exemplo: se as eleições serão de permanência ou mudança (de situação ou oposição); as candidaturas ainda não estão postas, pra suas devidas medidas de rejeição, potencial de crescimento, identidades com a mudança ou permanência e com as principais demandas sociais e urbano-rurais, etc. Ou, de outro modo, se será plebiscitária, multipolar, ou de terceira via. Mas, vale nota que, independentemente de contornos conjunturais, a política amapaense estampa duas marcas consolidadas historicamente, a serem levas em conta:
A primeira traz a luz que ninguém ganha (ou ninguém nunca ganhou) uma eleição amargando o isolamento político. A segunda traduz a olho nu que o Amapá jamais apresentará crescimento socioeconômico duradouro enquanto o político investido no poder de Estado der, de per si, todas as cartas sobre o que se fazer; ou seja, enquanto não se por em execução um projeto de construção coletiva consubstanciado em um bloco histórico; e, enquanto o governante não ostentar autoridade moral e intelectual (no sentido gramisciano) e não tiver base de sustentação popular ou, pelo menos, uma afinada e sólida maioria parlamentar.
Tomando em conta nuances dessa conjuntura pré-eleitoral e a história como mestra, tem-se que, uma chapa Lucas/Jorge ou Jorge/Lucas seria a ideal na disputa à prefeitura de Macapá para os setores centro-direita e direita (ou, quem sabe, a uma “neodireita”, numa heterodoxia política a que possa se firmar). Já para o lado centro-esquerda e esquerda (ou a outra heterodoxia) seria uma chapa encabeçada por Dalva Figueiredo, tendo Cláudio Pinho de vice.
Venhamos e convenhamos! Não há como se construir uma base política programática, com um mínimo de unidade de ideias sobre a sociedade planetária e sobre a realidade amapaense, no campo das esquerdas, sem superação da atual pasteurização ideológica existente no Amapá. Ora, hoje é visível que o PT não tem um projeto de poder para o Estado, isto é fato. E, consequentemente, enquanto esse Partido continuar como um emaranhado conjunto de mosaicos vagando em múltiplas direções a esmo, a pasteurização das ideias políticas permanecerá, no campo das esquerdas. E, como efeito dominó, permanecerá também (e por muito tempo) ausente uma base de sustentação a um poder popular transformador da realidade.
Hoje, o lançamento de uma candidatura do PSB à prefeitura de Macapá divide o PT, no pleito, e, contribui para conservar os mosaicos petistas, a pasteurização e a falta de sustentabilidade necessária a um poder político transformador. [Além disso, assistiríamos, no Partido, a versão II do filme: palacianos “subservientes x não-palacianos “incompreensíveis” . E assim, definitivamente, bye bye PT, em guerra fratricida “interminável”].
Nesta conjuntura, se o PT quiser ser competitivo e viável eleitoralmente, não pode (e não deve) abrir mão de Dalva. É que, no Partido, somente ela tem apelo popular, densidade eleitoral, e ninguém melhor preparado que ela para disputar eleições majoritárias. Isso, sem dúvida, é fato. Tanto que, já em outubro de 2010 ela tinha 25% de intenção de voto em pesquisa do INPSOM. Ora, com essa cotação, e com o apoio do PT nacional (e lá, aqui do Amapá, ninguém tem mais representatividade que ela), a imagem e a ajuda da presidenta Dilma, com o poder de influência da máquina pública estadual. E, ainda, com tudo isso somado a outros ingredientes de campanha, Dalva torna-se praticamente imbatível. Ela e as esquerdas.
Destarte, mais uma vez na história, João Alberto Capiberibe tem a história nas mãos e, desta vez, “por puro capricho do destino”, da casualidade histórica, no modo concebido por Eric Robsbawm. Isso porque, tal decisão, passa por ele, que, reconhecidamente, é o líder maior das esquerdas. Se confiança lhe faltar, a solução (na forma medida de segurança àquela falta) é muito simples, simplória. Basta que os acordos sejam feitos e firmados, pelo lado do PT, com o tutoramento e curadoria do Diretório Nacional do Partido. De tal modo que, neste caso, não haveria caução política mais que fabulosa ao PSB.
Logicamente, sabe-se, que, outras forças se movem por esferas nacionais, e podem estar engendrando outros cenários pra 2014. Contudo, pelo menos por hora, referido engendramento não passa de mero ensaio e/ou conjectura ou, até, especulação. Além do que, tal mover-se parece invisível aos olhos dos mortais aqui de baixo, como se coisa idealisticamente abstrata. E aos de baixo, sobre este assunto, só é dado pensar acerca do concreto.
* Tem formação sociológica obtida na Universidade Federal do Pará, graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Santa Catarina e pós-graduação Metodologia do Ensino Superior
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