segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Camilo Capiberibe e a governabilidade maldita

O governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB) tem sido um verdadeiro equilibrista na arte de governar, diante da atual conjuntura e do resultado eleitoral que elegeu apenas dois deputados da coligação Frente Popular nas eleições de 2010.

O socialista tem enfrentado dificuldades para manter a governabilidade e uma boa relação com o parlamento. Construir maioria não é fácil, ainda mais quando o povo elege parlamentares fisiológicos e comprometidos com projetos de poder de grupos empresarias e de poder.
A relação Executivo/Legislativo tem sido conturbada diante das pressões para que o Camilo Capiberibe ceda ao “velho jogo” de setores que estavam mal acostumados com as mordomias e vantagens do governo passado, intitulado pelo PSB e a oposição de “harmonia”.
A herança histórica de uma cultura política viciada, sustentada pela “política da boa vizinhança” foi um erro político grave que culminou em diversos escândalos de corrupção, no amordaçamento majoritário da imprensa local e da inoperância do Ministério Público e a cegueira do nosso judiciário diante dos crimes cometidos contra o nosso povo.
Camilo Capiberibe herdou um sistema perverso no parlamento, com raízes históricas de patrimonialismo, interesses oligárquicos, clientelismo, falta de transparência e controle social por parte da população no processo de fiscalização do “trabalho e atuação” de nossos deputados.
Os escândalos com o dinheiro público observados na operação Mãos Limpas da PF, a farra das diárias de nossos parlamentares, o gasto abusivo e não justificado com coisas inexplicáveis, não foram suficientes para despertar na maioria da população o sentimento de revolta e contestação com o Legislativo Estadual.
A ausência da participação popular e falta de pressão dos movimentos populares nos nossos parlamentares não ajudam o governo a avançar nas mudanças necessárias, já que é no parlamento que se travam os grandes embates na disputa pelo bolo orçamentário, mudanças e criação de leis e a quebra de privilégios adquiridos no governo passado.
Camilo Capiberibe enfrenta as mesmas dificuldades que Lula enfrentou para governar o Brasil. Assim como o metalúrgico, o socialista não é bem visto pelas elites locais, que conspiram diariamente contra o governo. O jovem governador também não conta com a simpatia da imprensa, em sua maioria controlada por famílias que mantém relação de subserviência com o senador José Sarney (PMDB-AP), principal empecilho ao nosso desenvolvimento e uma pedra no caminho da radicalização das mudanças.
O governo Lula foi refém da governabilidade do parlamento, foi preciso construir uma ampla coalização de partidos, que se aboletaram na máquina federal e promoveram verdadeiros saques aos cofres públicos. O resultado da governabilidade maldita está sendo visto nos recentes escândalos enfrentados pela presidenta Dilma, que agora é obrigada a promover uma “faxina ética” e se livrar de alguns tentáculos das velhas raposas a quem Lula se aliou.
O governo Lula errou em não valorizar a democracia participativa, preferiu a democracia representativa. Parece que alguns erros do metalúrgico também estão sendo repetidos pelo atual governador do Amapá. A grande diferença é que Camilo Capiberibe não mede esforços para fazer das contas do Estado a mais transparente do Brasil e não se aliou à Sarney.
Mas a relação com alguns sindicatos e organizações sociais tem sido conturbada. Em vez de, em alguns momentos o governo sentar-se à mesa e negociar com algumas categorias, ele preferiu o embate e o resultado foi o desgaste perante a opinião pública e os ataques rasteiros e oportunistas da imprensa oposicionista.
Alguns setores do movimento sindical também cometem seus erros ao serem movidos pela paixão sectária e não focar na raiz do problema (parlamento e judiciário). Esses setores da sociedade civil pautam o debate na mera relação com o Executivo e se esquecem de pressionar o Legislativo, quando o assunto é o avanço de direitos.
Além disso, muitas vezes lutas desses setores são meras ambições corporativistas, que não levam em consideração o caos vivido pelo povo pobre, diante do sucateamento do Estado e agravamento da crise com decisões aprovadas pelo Legislativo que emperram a melhor distribuição orçamentária e consequentemente a distribuição de renda à quem mais precisa do poder público. O travamento do diálogo tem sido prejudicial principalmente para o povão.
A falta de consciência do povo, a pouca crença do governo em criar mecanismos de participação popular e radicalização da democracia, aliados ao fisiologismo de um parlamento insaciável são alguns problemas que devem ser enfrentados pelo governo. Além de fazer uma autocrítica, os socialistas precisam ganhar a opinião pública nos debates futuros, que exigirão “jogo de cintura” para enfrentar os leões da Assembleia Legislativa.
O governo precisa iniciar o debate sobre o fortalecimento dos conselhos setoriais e efetivar o controle social amplo da máquina pública. É preciso debater com o povo, o Orçamento Participativo de forma radical e sem concessões e criar o Conselho Político (partidos da base aliada) e o grande “conselhão” (Estado e Sociedade) com ampla participação dos diversos setores da sociedade.
Somente com a mobilização e organização do povo para disputar os rumos do governo, é que os socialistas poderão construir uma governabilidade social capaz de romper com a governabilidade maldita do parlamento.

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso ai, vc fez um raio x perfeito da situação em que se encontra o estado do Amapa.O povo não é politizado,e ai ficamos a merce de politicos inescrupulosos. Parabens!