Marina Dias, no Terra Magazine
O ex-ministro dos Transportes e presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), discursou na tribuna na noite de terça-feira (16) para anunciar a posição de "independência" de seu partido em relação à base do governo Dilma Rousseff. Assim como ele, o deputado federal e líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), disse que deixaria todos os cargos do partido à disposição do governo. Ambos foram orientados por um dos mais influentes nomes do PR, o deputado federal Valdemar Costa Neto (SP).
De acordo com interlocutores da alta cúpula do PR, somente os "valdemecos", ou seja, parlamentares ligados ao grupo de Valdemar, irão seguir à risca a orientação de deixar a base. "A Executiva do PR tem nome e ela se chama Valdemar Costa Neto", afirmou um deles. "Quem está com Valdemar, fala; quem não está, cala a boca", disse outro.
No entanto, o próprio deputado Lincoln Portela nega a tese. Em entrevista aTerra Magazine, ele afirma que conversou com 39 dos 41 deputados do partido e chegou ao seguinte resultado: quatro deles queriam passar para a oposição, dois queriam se manter na base e todos os outros queriam assumir a posição de independência.
"Valdemar Costa Neto tem influência no partido, isso é notório, mas eu fui o grande entusiasta da ideia de o PR ficar independente. Acreditamos no governo Dilma, mas colocamos os cargos à disposição da presidente, para que ela demita quem quiser, e votaremos com apoio crítico", declarou o líder do PR.
Entretanto, o senador Magno Malta (ES), líder do PR no Senado, disse em entrevista a Terra Magazine, apenas algumas horas antes do discurso de Nascimento, que caso a bancada de seu partido retirasse o apoio ao governo, ele ficaria "sozinho na base". Assim como Malta, os senadores Blairo Maggi (MT) e Clésio Andrade (MG) não concordaram como a postura que avaliam como "mais radical" - abandonando a base e colocando todos os cargos do PR à disposição da presidente Dilma Rousseff.
De acordo com o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), "ainda é cedo para saber como será o comportamento do PR daqui para frente". Mesmo assim, o petista não acredita que o partido irá se alinhar à oposição nas votações mais importantes. "Eles não disseram que iriam votar contra o governo. Disseram que iriam votar de acordo com a consciência deles e, como o PR tem unidade política com o governo, teremos que dialogar para aproximá-los da base", afirmou aTerra Magazine.
Ressentimento
O desentendimento entre PR e governo teve início após a série de denúncias que atingiu o Ministério dos Transportes e derrubou o então ministro Alfredo Nascimento, no início de julho. O esquema de corrupção, com superfaturamento de obras e recebimento de propina por meio de empreiteiras, seria comandado por Valdemar Costa Neto, responsável pelas reuniões com as empresas que participavam das licitações.
Desde então, Valdemar ficou ressentido com o governo e começou a articular com os mais próximos pela "rebelião" do PR.
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