PSDB e PSOL se unem contra blogosfera
Tucano cobra explicações sobre gasto oficial na internet
O Globo – 20/03/2013
BRASÍLIA O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP),
protocolou ontem pedido de informações para que o governo explique o
aumento de gastos com publicidade na internet, de 483%, no período de
2000 a 2011, segundo o partido. De acordo com o líder tucano, os gastos
informados pelo governo não permitem saber a razão do aumento dessas
despesas, passando de R$ 15 milhões, em 2000, para R$ 90 milhões, em
2011.
Aloysio quer que a Secretaria de Comunicação da Presidência explique
se há financiamento público dos chamados “blogs sujos”, que são, segundo
ele, sites de jornalistas contratados para atacar opositores do
governo.
- Muitos dados que temos não são suficientemente pormenorizados. É
impossível saber o que é gasto com empresas que concorreram no mercado, e
as que não são. É um exército, uma milícia no “cyberespaço”. Eu quero
saber onde e como esse dinheiro está sendo gasto – disse Aloysio.
O líder do PSOL, senador Randolfe Rodrigues (AP), que disse que irá
subscrever o requerimento do tucano, afirmou que um site que veicula
publicidade de uma empresa estatal teria “massacrado” o senador Pedro
Taques (PDT-MT), um dos mais críticos ao governo no Senado:
- Se recebe verbas públicas para isso, mais do que ameaça à liberdade
de expressão, é uma ameaça à democracia. É o financiamento do
achincalhamento de quem tem alguma divergência – disse Randolfe.
Diz o Miguel:
A “denúncia” de Aloysio Nunes é antes de tudo burrice. Em 2000, a
internet quase não existia no Brasil. Eu, que fui um dos primeiros
blogueiros do país, entrei por aqui em 2004. Essa é a explicação óbvia
porque o aumento da publicidade estatal na internet cresceu 483%.
Mais grave que a burrice, porém, é que Nunes na verdade está tentando
perseguir a blogosfera. O Cafezinho já identificou que mais de dois
terços da publicidade federal vai para UOL, Globo, Abril. Até o site da
Fox recebe dinheiro. A blogosfera não ganha nada. Alguns blogs de grande
circulação recebem anúncios de estatais. É triste sobretudo ver um
senador de esquerda, como Randolfe Rodrigues, adotar uma postura tão
mesquinha, apenas porque viu ataques de um blog ao senador Pedro
Tacques. E daí?
A grande mídia não ataca diariamente políticos e instituições, e não é
justamente por isso que é considerada “crítica” e “independente”? Quer
dizer que o senhor Randolfe Rodrigues, que nunca abriu a boca para
reclamar contra a concentração midiática no país, e contra uma lógica de
direcionamento de verbas estatais que apenas beneficia os grandes,
agora vai entrar na turma dos que querem asfixiar financeiramente os
dois ou três blogs que receberam uns caraminguás? E por que?
Porque um blog (deve ter sido o 247, que nem é blog exatamente, ou o
Conversa Afiada) publicou uma denúncia feita por um jornalista que
trabalha no mesmo estado que Pedro Tacques? Ora, se houvesse um
blogueiro ou jornalista em Goiás que denunciasse Demóstenes Torres, o
Brasil não teria sido pautado, por anos, por um cupincha de Carlinhos
Cachoeira que fazia dobradinha com a revista Veja.
Na verdade, o ataque do senador Aloysio Nunes reflete o medo
crescente que eles tem da blogosfera, uma vez que sabem que suas ideias
apenas podem ganhar eleitores se estes se informarem exclusivamente pela
grande mídia conservadora. Sabendo disso, eles querem não somente
asfixiar financeiramente os dois ou três blogs que recebem alguma
publicidade estatal, mas sobretudo: intimidar o governo, para que não se
torne mais plural e democrático na distribuição da publicidade federal;
constranger os próprios blogueiros a não lutar por seus
direitos; atacar moralmente os blogueiros, que não escreveriam por
ideal, mas por “dinheiro”.
Eu, como blogueiro, não quero nenhum recurso federal. Meu blog vive
de assinaturas, não preciso de nenhuma publicidade estatal. Mas das
duas, uma. Ou o governo não dá para ninguém, ou dá para todos. Não acho
certo o governo, que tem compromissos com a disseminação de valores
democráticos, ou seja, com o pluralismo e o debate, entregar tantos
recursos para poucos grupos de comunicação, colaborando para a
manutenção de uma lógica que já se mostrou terrivelmente nociva para a
democracia brasileira.
A luta por uma comunicação social mais democrática e mais plural
inscreve-se na luta pelos direitos humanos, pela cultura e pelo
desenvolvimento, de maneira que os partidos políticos que, por medo da
mídia corporativa, silenciam-se sobre um dos temas mais urgentes da
pauta política nacional, são covardes e representam, mesmo que posem
para as câmaras de progressistas e inovadores (como a rede marinista), a
continuidade do atraso, com nova e engandora roupagem.
É um escárnio que os mesmos grupos que deram o golpe de Estado em 64,
e apoiaram a ditadura, hoje recebam milhões de reais de publicidade
estatal, e os setores que representam as ideias daqueles que lutaram
contra a ditadura, desde o início, não apenas não recebam nada, como
sejam alvos de ataque das mesmas mídias que recebem grandes somas de
recursos públicos. O patrimônio financeiro dos donos da mídia foi
construído, em boa parte, sobre os escombros da democracia.
O escárnio se torna insuportável quando eu vejo um senador acusando a
blogosfera de receber um dinheiro que na verdade vai para os barões. E
com apoio do senador do PSOL!
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