Por Gerson Carneiro, especial para o Viomundo
Racismo ao contrário.
Que nome se dá quando um negro ascende socialmente e passa a ser o agente ativo da humilhação?
De fato, não consegui chegar a um adjetivo.
Sei. O termo não muda. Embora a ideia imediata, e vaga, de racismo seja a de um branco humilhando um negro, ou quando, um negro humilhando um branco. Mas deveria haver um termo específico.
Observem esse caso: um negro, desembargador, evangélico, humilhando um garçom de uma padaria.
Joaquim Barbosa fazendo escola.
Observem a reação de um cliente que testemunhou a humilhação.
Aconteceu no domingo dia 29.12.2013, na padaria Mercatto, na cidade de Natal-RN. O nome do desembargador é Dilermando Motta, vai assumir a presidência do Tribunal Regional Eleitoral. E assim tentou se explicar:
“Eu sou um servo de Deus, tenho 61 anos, sou honrado. Eu vou completar 34 anos de magistratura e Deus tem me abençoado. Eu vivo da graça de Deus e do meu salário. Quando tenho qualquer dificuldade eu recorro ao Mestre, ao Senhor. É aos pés de Deus que eu recorro quando tenho qualquer dificuldade de ordem pessoal, familiar ou profissional. Tenho que ter cuidado para não navegar na maionese, mesmo quando eventualmente estiver errado. Um magistrado sempre tem inimigos anônimos. E o meu refúgio é os pés do Senhor”.
Eu, Gerson Carneiro, tentei entrar em recesso em relação às redes sociais, ficar longe, fazer um balanço. Sinto-me cansado e agressivo, mas, o mundo gira e os fatos acontecem. Tento ficar parado mas sempre alguém no mesmo estado em que estou me acha.
Como me manter calado diante de uma situação dessa? Tenho ciência de que o que digo sobre o mundo a partir de minhas observações em nada mudará o mundo ou alguém. Tampouco não tenho certeza de estar sempre certo. Algumas vezes tenho, em outras apenas acho.
Mas externar minha ira, meus gostos, meus desgostos, minhas preferências, enfim, minha opinião, é minha válvula de escape. Acabou o tempo em que a informação se impunha verticalmente de cima para baixo.
Essa é a maravilha desse novo mundo louco cibernético.
E a cada dia, a cada embate, a cada crítica, aprendo muito. E tem de tudo, desde loucura até comédia. Ou os dois juntos.
Exemplo de loucura cômica: há quem me classifique “petista fanático”, sem se dar conta de que seu antipetismo, no grau em que se manifesta, é um fanatismo. Apenas escolhi um posicionamento político e manifesto com prazer minha opção.
Há quem chega a ser beato/beata de igreja mas deseja de coração a morte de alguém que não conhece sem saber porque o faz.
Como disse o poeta que acabou de ser pichado por um não fanático: livre mesmo é estar morto.
Bem, meu chá de alecrim está terminando e daqui a meia hora vou caminhar por doze quilômetros ao lado de minha esposa.
O dia começa e o ano termina. É o mundo girando sem que eu esteja bêbado.
Tenham um bom ano novo.
Desembargador Dilermando Motta
NOTA DE ALEXANDRE AZEVEDO
Desembargador Dilermando Motta
NOTA DE ALEXANDRE AZEVEDO
A respeito do incidente na Padaria
Mercatto, envolvendo o Des. Dilermano Mota, ocorrido no último domingo
(29/12/2013), venho a público externar a minha versão, objetivando
esclarecer os fatos.
Por volta das 10 hs, estávamos, eu e
minha esposa, lanchando na Padaria quando presenciamos um senhor, que
até então não sabia de quem se tratava, levantar-se bruscamente de sua
mesa e ir de encontro ao garçom que acabara de servi-lo. Este senhor,
aos gritos, no meio do salão, dizia ao garçom que este não o havia
atendido direito, deixando de colocar gelo em seu copo, e gritava pelo
gerente, exigindo que o punisse naquele momento, e ele queria
presenciar. Não satisfeito com esse escândalo, este senhor puxou o
garçom pelo ombro e exigiu que lhe olhasse nos olhos e o tratasse como
Excelência, e disse que deveria “quebrar o copo em sua cara”. Tal fato
foi testemunhado por dezenas de pessoas que ali se encontravam.
Presenciando aquela agressão
injustificada, eu me levantei e intervi, dizendo ao senhor que ele não
poderia fazer aquilo; não poderia humilhar alguém que estava ali para
servir. Nesse momento, o senhor se voltou contra mim, chamando-me de
“cabra safado”, “endiabrado”, “endemoniado”, que “merecia ser preso”,
chegando, inclusive, a pegar uma cadeira e dizer que iria “quebrar minha
cara”, tendo sido contido por várias pessoas. Eu repudiei a conduta
deste senhor veementemente, perguntando quem ele pensava que era e se
não tinha vergonha de ofender seus semelhantes daquela forma.
O Desembargador Dilermano Mota,
identificando-se como tal, acionou a Polícia Militar, que deslocou
imediatamente quatro viaturas para atender o chamado, tendo, o oficial
que atendeu a ocorrência, depois de sondar as dezenas de pessoas que se
aglomeravam no salão da Padaria, identificado a inexistência de qualquer
crime cometido por mim. Em razão dos policiais não terem me prendido, o
desembargador, aos gritos, adjetivou-os de “um bando de cagão”.
Devo deixar claro que não conhecia o
Desembargador, tampouco o garçom. A minha atitude de revolta e
indignação ao presenciar uma profunda injustiça foi a de um cidadão
consciente, como todos devem ser. E teria a mesma reação, ainda que não
se tratasse de um magistrado. Quem quer respeito, se dá o respeito.
Finalizo citando Darcy Ribeiro quando dizia “só há duas opções nesta
vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”.
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