Rup Silva questiona domicílio eleitoral de Sarney no Amapá e a sua inércia política |
A noticia
dada pelo colunista Ancelmo Góes que Sarney não desistirá da disputa de mais um mandato a senatoria no
Amapá, me levou refletir sobre alguns questões que considero relevantes e que
deveriam ser da preocupação e interesse de todos os amapaenses de verdade.
Antes é bom
informar o que já divulgou a Folha de São Paulo: Sarney não tem mais que parcos
6% da preferência do eleitorado amapaense, segundo sondagens de opinião pública.
Uma mixórdia, sem dúvida. Da minha parte acho até muito.Sua rejeição por pouco não chega a
unanimidade.
A primeira questão
que me ocorre ( cutucando a Justiça Eleitoral ) é sobre o domicilio eleitoral de Sarney. O que
diz a lei sobre : "domicilio eleitoral é o local onde o individuo elege para
fixar sua residência com animo definitivo". Trocado em miúdos isso quer
dizer que domicilio é o local onde a pessoa escolhe para morar, procriar,
trabalhar, viver e morrer, e se possível, ser enterrada.
Óbvio que o
conceito acima declinado, salvo erro de interpretação desse articulista
bissexto, sem a mínima iniciação forense, deixa claro que não se aplica ao personagem
Sarney, espécie de eminência parda do poder pátrio, ex-presidente da Republica,
sobrevivente de todos os governos, da velha a nova Republica, que um dia sonhou
ser Rei no Amapá.
Não preciso
gastar argumento para provar a tese que Sarney não mora no Amapá. Lembro
claramente, como se fosse hoje, que nos idos de 1994, ocasião de sua primeira
disputa eleitoral vencida no Amapá, que foram os Borges os primeiros a questionar, na
justiça eleitoral, o domicilio eleitoral de Sarney.
Fizera
Gilvan, candidato a mesma vaga pelo então PRN, sua primeira vitima. Sepultada, a questão nunca prosperou por razões até hoje
não esclarecidas e não se tocou mais no
assunto.
Seguiu-se
que os Borges sossegaram. Luiz Melo, dono da Radio e Jornal Diário do Amapá,
aliado visceral dos Borges, protagonizou uma cena pública inesquecível no Aeroporto
de Macapá quando Sarney aqui voltou para festejar sua vitória, lhe aplicando uma descompostura
verbal que ressoou pelo Estado, como os Borges, esqueceu o "intruso".
Depois, de mãos dadas, todos subiram ao paraíso. Sarney ganhou o seu
mandato no tapetão, os Borges tem um império de comunicação e Melo é dono de uma emissora de radio, um jornal e
sonha com um canal de TV.Passaram, para o espanto geral, a compor a tropa de choque do outrora
contestado senador do Amapá.
Tudo, na
verdade, teve origem com Azevedo Costa que não ouviu Ulisses Guimarães que era
contrário a sua filiação ao PMDB do Amapá. Não ouviu e virou pó. Ao contrário
Sarney passou a reinar no partido , beneficiado pela morte de Ulisses nas águas
de Angra dos Reis.
Reconheçamos,
a bem da história, que chegou ao mandato graças a ignorância e inocência política
do povo amapaense que se sentia honrado com
a idéia de ter Sarney, ex-presidente do Brasil, como Senador da República, mais impressionado ainda
pelo slogan que nunca se confirmou: " o Amapá vai ter força no
Senado" .
Nada mudou
nas disputas posteriores que lhe conferiram 24 anos, a vencer ao final de 2014.
Só o susto que Cristina Almeida (PSB) lhe pregou na última disputa em 2006
quando, por pouco , muito pouco não foi derrotado
pela laguinense, numa disputa memorável em
que teve que suar, dançar marabaixo e
virar um resultado desfavorável ao apagar das luzes.
Sua obra no
Amapá não é grande coisa. Para não sermos injustos adicione aos motores caducos
da usina de Camaçari do amigo Toninho
Malvadeza, uma emenda aqui, outra acolá, e a declaração peremptória que sob
o governo Capiberibe, oito anos, se proibiu ajudar o Estado, por discordar politicamente dele, esquecendo da
tarefa constitucional que o povo lhe
conferira.
Oito anos de
inoperância!Nada a ver com as conquistas que alardeia nos órgãos de
comunicação, quando aqui aparece, contando sempre com a benevolência de uma
mídia sectária e conivente. Nada comparável ao que deixou de fazer, quando podia
fazer, que não cabe nesse espaço.
O senhor dos "atos secretos"tem que
entender ser impossível encarnar o espírito do lugar e de seu povo, integrar-se
a comunidade, quando não se vive nela de verdade.Quatro ou cinco
"visitas" a Macapá ou quando seu séquito precisa de aconselhamento
para resolver divergências internas, de risco eleitoral ou para criar
dificuldades aos Capiberibe, não criaram a
liga necessária e o tornaram um corpo estranho ao povo que o recebeu
generosamente, num momento difícil de sua trajetória política.
Hospeda-se (
seria o termo correto ) numa casa no Santa Rita e não demora mais de dois ou três
dias, quando muito. Sua recatada esposa, nunca foi vista fritando um ovo sequer
na tal "residência" ou se viu
uma réstia de fumaça a denunciar :
" Habemus Senatori".
Não se tem
noticia também que os filhos, durante 24 anos, tenham lhe feito uma visita
sequer. Roseana, Fernando e Zequinha,
jamais botaram os pés na terrinha. Os mais íntimos, e isso já é uma
particularidade que não vem muito ao caso e nada depõe contra, é só uma
curiosidade a conferir, falam que Sarney não gosta de açaí.
Mas até aí
tudo bem. Tem muita gente que não gosta. Duca Serra, meu pai, era um. Dizia
faltar um grau pra ser veneno e morreu sem saber o que perdeu. Mas com certeza
não será enterrado no Amapá, como meu velho pai.As noticias dão conta que já tem mausoléu contratado no
seu Maranhão querido,para o dia que bater as botas. Mais que justo, já que ele
nasceu lá, se criou lá, se iniciou politicamente lá e mora lá, na sua paradisíaca ilha de Cururupu.
Mesmo diante
de tantas evidencias a Justiça Eleitoral nunca o importunou e faz de conta.Como
dizia Eraldo Fonseca, falecido , arguto observador da cena política do Amapá,
por ele também derrotado naquele pleito: " se Sarney mora aqui , eu sou Cassius
Clay", o boxer afro-americano, no auge da forma e fama,com quem parecia e
era fã.
Não se cansa
da política apesar das visitas cada vez mais freqüentes ao Sírio Libanês e de
pregar contra a candidatura de ex-presidentes a qualquer cargo eletivo, a quem
deveria ser reservado um lugar de senador vitalício, que evitaria, lógico, o vexame
de ser derrotado nas urnas como agora.
Em verdade Sarney
tem sede de poder, de manipulá-lo com a doutrina da
"governabilidade". Costuma ensinar, com certo cinismo, que um partido
pra governar não precisa eleger necessariamente o presidente da Republica.
Para mandar basta uma bancada expressiva no
Congresso para impor suas vontades, nomear ministros, dirigentes de estatais,
fundos de pensão e garantir recursos do orçamento da União para distribuir com
os empresários, amigos e
correligionários, espalhados pelo país, que garantem a sobrevivência e
perenidade do partido.
Diante do
quadro negro que se desenha de pífia aceitação, o que leva Sarney , quase 90
anos, a arriscar sua biografia num pleito onde suas chances dependem de uma articulação
que o coloque candidato único ao cargo de senador da Republica como quer Lula,
segundo dizem?
Dessa forma,
quem não quer? Seguramente muita gente. Menos meus amigos Ruben Bemergui, Jucicleb, Ronaldo
Serra, Job Miranda, Jojoca, Calandrine, Wagner Gomes, Sergio La Rocque,
Paulinho Bezerra, Ladirson, Antonio Telles, Raimundo Vasques,enfim , apóstolos
da democracia.
Muitos acham
que Sarney vem para batalha final com tudo e por isso o pleito merece um Homero
para descrever o que será esse embate épico. Trata-se de uma guerra pessoal do
honorável senador. Sua maior preocupação, não é nem a vitoria, garantem seus
aliados. Deseja mesmo é derrotar os Capiberibe e para isso jogará todas as suas
fichas, as boas e as podres, contra a reeleição do governador Camilo.
Com o poder
que acha ter, acredita ser possível. Todavia será muito difícil se a disputa ocorrer no campo ímpio e honrado
das guerras justas, com armas iguais, leis iguais e dentro dos princípios
democráticos e constitucionais , ou seja, no cumprimento estrito das normas
eleitorais.
O povo não o
deseja mais, bradam as ruas.Fora do campo sagrado da eleição, admito , tudo é
possível no entanto. Por isso devemos
todos, o povo em geral, ficar atentos para que não percamos a nossa autodeterminação,nosso
direito de decidir o que nos convém.
Fiquemos
alertas , pois qualquer decisão fora das urnas, engendrada nos porões de
interesses menores,logo espúrios, será um
golpe numa sagrada instituição democrática, absolutamente inaceitável. E
sabemos do que essa gente , na orfandade do poder, é capaz. Vamos lá Amapá, atenção, é preciso
estar atento e forte!
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