quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Randolfe tenta usar a PF e expõem contradição ao intimidar blogueiro amapaense - Régis Sanches

Por Régis Sanches
 
Ex-cara pintada, forjado no movimento estudantil, Randolfe Rodrigues é um parlamentar raro: é o único senador do PSOL. Mas após encenar duas candidaturas à presidência do Senado – contra José Sarney e Renan Calheiros –, parece que o nosso “Harry Potter” perdeu a veia combativa.

Membro ativo da CPI mista que investigou os crimes do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Randolfe Rodrigues agora gasta sua energia com miudezas. Ele pediu à Polícia Federal que investigue a possível prática de crime contra sua honra e imagem.

Segundo Randolfe Rodrigues, o “criminoso” que atentou contra sua imagem de paladino da moralidade é Heverson Castro, que mantém um blog político. A indignação do jovem senador deve-se ao texto intitulado “Randolfe e Clécio são acusados de fechar com ‘turma do Cachoeira’ para se livrarem do PSOL”, postado no apagar das luzes de 2012.

Intimado, Heverson Castro prestou depoimento ao delegado federal André Moreira Branco dos Santos, na tarde de terça-feira, 5, na sede da Polícia Federal, em Macapá. No inquérito nº 0031/2013 o blogueiro disse que não acusou, tampouco pretendeu ofender a honra do senador Randolfe e de Clécio Luís, atual prefeito de Macapá.

Em relação ao texto, Heverson assegurou ao delegado Branco dos Santos que apenas replicou informações postadas no site Brasil 247, confirmadas por fontes ligadas ao PSOL. Segundo o blogueiro, a base da postagem “é a existência de um possível acordo entre o senador amapaense e o grupo do dirigente nacional do PSOL, Martiniano Cavalcante, e do vereador Elias Vaz, de Goiânia”.

Em função desse suposto acordo, o Diretório Nacional do PSOL avaliou o pedido formal de expulsão do Diretório Municipal de Belém contra o senador Randolfe e o prefeito de Macapá Clécio Luis. De acordo com fontes do partido, Martiniano Cavalcante, presidente do PSOL de Goiás, teria confessado que contraiu empréstimo de Carlinhos Cachoeira.

O mais grave de tudo é que Randolfe teria fechado o acordo com o deputado federal Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira, para que o vereador Elias Vaz não fosse indiciado no relatório final. O fato foi confirmado pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), em matéria veiculada pelo Estadão.

Heverson Castro chegou à conclusão de que o senador quer intimidá-lo, impondo censura velada ao seu blog, que tem criticado o comportamento dúbio de Randolfe. Exemplo disso foi o apoio de Randolfe ao atual prefeito de Santana Robson Rocha (PTB), considerado de direita.

Apenas para refrescar a memória, Robson é filho do ex-prefeito Rosemiro Rocha, preso na Operação Pororoca da PF em 2004, que constatou o desvio de vultosos recursos para a construção do Porto de Santana. Por causa da falcatrua, Rosemiro está inelegível, mas conseguiu eleger o filho, com apoio de Randolfe contra a candidata do PT, professora Marcivânia Flexa.

Se Randolfe quiser consolidar a imagem de paladino da moralidade, seria mais produtivo que ele somasse esforços para tentar reaver os milhões que foram saqueados da Assembléia Legislativa do Amapá, onde ele iniciou sua carreira política.

Ao tentar silenciar o blog de Heverson Castro, Randolfe vai apenas criar uma cortina de fumaça. Pode ser apenas uma bruma, mas já o suficiente para desviar o foco da péssima imagem que o Amapá tem no cenário nacional.

Os saqueadores do dinheiro público do Amapá continuam soltos, gastando dinheiro a rodo. Assim, o senador Randolfe poderia requer à Polícia Federal investigar a fundo os desvios na Assembléia Legislativa e no Tribunal de Contas. E não acioná-la para investigar suposições.

Régis Sanches - Jornalista

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