Jean-Philip Struck / Folha de São Paulo
Cinquenta e sete adultos e cinco crianças que foram vítimas de escalpelamento no Amapá vão passar por cirurgias reparadoras em um mutirão que acontece nesta sexta-feira e amanhã (12) em Macapá e em São Paulo.
Todas elas sofreram mutilações ou deformações quando tiveram o couro cabeludo puxado por eixos ou hélices de barcos --um acidente comum em barcos da Amazônia sem proteção no motor. Os 57 adultos, entre eles dois homens, vão passar por procedimentos cirúrgicos em Macapá. As cinco crianças, em São Paulo.
Até a tarde de hoje, 28 pessoas tinham passado por operações de restauração do couro cabeludo e das sobrancelhas e reconstrução de orelhas.
No Amapá, participam do mutirão uma equipe de 41 médicos da SBPC (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), um neurologista e um anestesista.
A ação é coordenada pelas secretarias da Saúde e da Inclusão e Mobilização Social do Amapá em parceria com a DPU (Defensoria Pública da União) e a SBPC.
ESCALPELAMENTO
Pelo menos 300 pessoas na Amazônia vivem com sequelas de acidentes
envolvendo escalpelamento, segundo um cadastro da DPU (Defensoria
Pública da União). São desde crianças de 4 anos a idosas de 82. No Amapá
há até mesmo seis homens, que sofreram as mutilações na infância.
Os números, no entanto, segundo a DPU, podem ser muito mais altos, já que alguns casos de escalpelamento não são informados.
Quase todas foram vítimas de motores com eixo sem cobertura, que ficam expostos em áreas do barco onde viajam passageiros.
Ao aproximarem os cabelos do equipamento, as vítimas tiveram o couro
cabeludo parcialmente ou totalmente arrancado pela rotação do eixo. Em
alguns casos, a força chegou a arrancar parte do rosto e as orelhas.
Segundo a defensora pública Luciene Strada, que desde 2005 cuida de
casos envolvendo mulheres escalpeladas da Amazônia, as ações de
prevenção e reparação, praticamente inexistentes há algumas décadas,
melhoraram nos últimos anos.
Em 2009, uma lei de autoria da deputada federal Janete Capiberibe
(PSB-AP) tornou obrigatória a instalação de cobertura nos eixos. Já em
2011, a Marinha instalou mil delas em barcos do Amapá e Pará.
As vítimas podem pedir o seguro obrigatório em caso de acidentes
envolvendo barcos --semelhante ao que existe para veículos. Já as
vítimas cadastradas pela DPU contam com assistência judiciária. Há
também um iniciativa da defensoria para promover linhas de crédito para a
compra de embarcações mais modernas por barqueiros.
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