Camilo Capiberibe (PSB), o governador mais jovem do Brasil tem algumas das missões mais difíceis de sua vida: tirar o Amapá da difícil situação econômica em que se encontra e resgatar a dignidade e auto-estima do povo amapaense. É o que pretende a poucos dias de iniciar seu mandato e começando a conhecer de perto, junto de sua equipe de transição, os graves problemas de toda ordem pelos quais passam o Estado que, como ele mesmo diz, estavam subterrâneos. Eleito com 170.277 votos após uma campanha considerada difícil, Camilo se tornou o objeto de desejos da população que queria mudanças, que aumentaram após a Operação Mãos Limpas, da Polícia Federal que começou a mostrar o que de fato estava acontecendo no poder público do Amapá. Ele avalia como positivo a ação da PF na sua eleição mas ressalta também o importante papel da militância do PSB, que foi incansável na persistência de conscientizar as pessoas da necessidade de um novo administrador. Nesta entrevista ele conta como aconteceu todo o processo que o elegeu governador do Amapá.
P: Como surgiu o projeto do Camilo Governar o Amapá?
Camilo: Nós estávamos em uma reunião da executiva estadual do partido discutindo o que iríamos fazer em 2010, qual era a participação do PSB neste ano. Já tínhamos nos reunido antes e decidido dialogar com as forças políticas, com os partidos e ver o que podíamos construir de alianças, ou tentar juntar a esquerda e lançar uma candidatura, mas isso não era claro. Em maio avaliamos que não estávamos avançando com a possibilidade de construção de uma aliança, não conseguíamos fechar pelas diferenças que existem, ideológicas, programáticas e mesmo de posição. Ficou claro pra mim que se tivéssemos que lançar candidato teria que ser eu, e a partir dessa compreensão que eu tive, comecei a procurar um parceiro preferencial para construir essa aliança, que foi o PT. Eu lembro que no dia 2 de abril, posse do governador Pedro Paulo, eu apenas assisti a cerimônia na Assembléia, não fui para o Palácio, mas recebi um telefonema de um deputado que estava presente e perguntei pelo prefeito Nogueira, que é uma parte fundamental dessa aliança. Eu falei com o prefeito e o chamei para conversar. Após a posse acompanhei os demais deputados em um almoço em uma peixaria onde o prefeito me encontrou e conversamos dentro carro sobre a possibilidade de uma aliança. Já havíamos falado esse assunto outras vezes mas naquela conversa senti que fortaleceu, porém era preciso uma aliança mais ampla dentro do PT. Procurei o deputado Joel Banha, outro parceiro que fechou, e com ele tínhamos 2/3 do PT. Foi esse movimento de articulação que permitiu que houvesse a aliança. Conversei em Brasília com a deputada Dalva Figueiredo mas não foi possível no 1º turno, porém no 2 º nós tivemos um PT unificado em torno do projeto. Na verdade eu não tinha estabelecido como meta ser eu o candidato, mas a conjuntura do Amapá exigia uma candidatura de esquerda, de oposição à “harmonia”, era uma imposição que se fazia e não tinha outro nome dentro do partido. Na segunda reunião que tivemos, o Cláudio Pinho, que é secretário geral do PSB, virou para mim e perguntou: “Camilo, se o PSB tiver que ter um candidato você aceita ser ele?”, e eu respondi que aceitava. Naquela época aceitar ser candidato a governador era como abrir mão de meu mandato de deputado estadual. As pessoas encaravam dessa maneira, falavam, “o Camilo vai perder o mandato”. Até o início da campanha o que estava no olhar das pessoas era isso. Assim que reagiam com a idéia, não achavam que era um projeto viável.
P: Quando o senhor percebeu que o projeto era viável?
Camilo: Tivemos que lutar muito. No início da campanha as pesquisas eram todas desfavoráveis e isso atingia a auto-estima da militância. Eu lembro que estava em Laranjal do Jari quando saiu a primeira pesquisa e estávamos com 17%, terceiro lugar, aquilo foi um golpe forte na militância. Um mês depois saiu uma nova pesquisa, 10%, outra golpeada violenta, porque as pessoas vêem as pesquisas. Eu sentia diferente nas ruas quando eu encontrava com o povo, mas as pesquisas iam tirando a confiança de que aquele era um projeto vitorioso. Quando teve a Operação Mãos Limpas o povo fez uma reflexão que como era possível o Estado vivendo aquela coisa subterrânea e ao mesmo tempo as pessoas que levaram o Amapá para aquela condição estarem liderando as pesquisas, crescendo em uma posição confortável. Refletiram sobre o que estava acontecendo. Não era tão claro como é hoje, era pouca informação, por exemplo, sobre as dívidas do Estado, não tinha esses três meses sem pagamento do Renda Para Viver Melhor, Amapá Jovem, um ano sem pagamento de aluguéis de escolas, a AFAP quase para ser fechada pelo Banco Central, nem sabiam que a Rádio Difusora estava para perder a concessão. Hoje pra todo lado que a gente olha vê problema, mas naquela época estava tudo subterrâneo, as pessoas não se davam conta. Então a Operação fez com que a população fizesse essa reflexão. Como se pensassem, “tem algo muito errado acontecendo neste Estado”. A partir daí a sociedade passou a enxergar que era preciso mudar e procurou nas candidaturas qual representava a mudança. Uma semana após a operação, no comício do Congós, que eu acho que foi um dos maiores e especial, tinha muita gente, mas não era quantidade, era o ânimo, a auto-estima recuperada. A nossa militância nunca deixou de lutar, de acreditar, mas naquele momento eles me mostraram que podíamos ganhar a eleição.
P: Qual o papel da militância?
Camilo: O papel da militância pro PSB é fundamental. A gente disputa sempre com poucos recursos, pouco apoio, no 1º turno era PSB e PT, que estava dividido, mas quem sustenta a campanha do PSB é a militância. Quando ninguém acreditava, a militância estava lá nos bairros caminhando comigo. Então eles tiveram um papel fundamental de empurrar a campanha no momento que tudo apontava para uma derrota, tudo jogava contra, não tinha dinheiro, não tinha apoio, combustível, só tinha dor de cabeça e dificuldades e a militância empurrava o tempo todo para continuar lutando, pra eu levantar de manhã, dormir às duas da madrugada e acordar cedo no outro dia, estar na luta o dia inteiro. Se não tivesse a militância eu não teria conseguido.
P: Qual a maior emoção dessa campanha?
Camilo:Tive muitas emoções nesta campanha, mas o carinho das pessoas, das crianças, sempre foi algo que me emocionou e que me manteve na luta.Lembro de uma cena em que estava em uma caminhada na Zona Norte e não tinha quase ninguém, era eu e um grupo pequeno de militantes e encontramos um senhor com uma criança que falou, “olha, é o Camilo 40”, e foi de um jeito tão engraçado que foi para o programa eleitoral e as pessoas se divertiam com a criança falando espontaneamente, feliz, alegre por estar me vendo ali, aquilo me emocionou muito. Também ver aquela multidão nos comícios no final do 1º e todo o 2º turno. Aquilo contagiou todo mundo, é impressionante. Eu estava em Brasília e o pessoal do partido falava, “nós rodamos o Brasil inteiro nos comícios mas não vimos nada parecido com aquilo”. O que aconteceu aqui na reta final ninguém viu nada parecido, aquela mobilização das massas, o desejo de mudança, não tem como olhar para aquele povo todo e não se emocionar, tanto a expressão da criança quanto a da multidão, tudo aquilo me dá muita emoção, o carinho, a esperança nos olhos das pessoas que também se emocionavam nos comícios, caminhadas e eventos. Era muita responsabilidade, uma agenda corrida que me impediu de viver aquilo com mais profundidade, mas tem flash na minha memória, um mosaico de muita emoção, muitas cenas, rostos, olhares. Eu lembro de 2008 que foi muita emoção também. A campanha produz isso e acho que o fato das pessoas acreditarem tanto que o Amapá vai melhorar nos contagia.
P: O que as pessoas devem esperar do governador Camilo?
Camilo: Podem esperar uma pessoa que vai tomar as decisões que precisam ser tomadas, a situação do Amapá exige decisão rápida, efetiva, pra gente reconstruir o Estado. Eu converso com as pessoas, lideranças, políticos, deputados e percebo que o Amapá precisa de um choque, e é isso que faremos ano que vem, dar um choque de gestão. Vou tomar algumas medidas difíceis, mas que precisam, e vamos reconstruir esse Estado. Eu estou confiante apesar do cenário muito complicado, um bilhão em dívida com a AMPREV, INSS, Receita Federal, a situação está muito difícil, se você botar o pé no chão e olhar o quadro no Amapá, vai ver que é um quadro de falência institucional, financeira, o Estado não tem recursos. Mas ao mesmo tempo vou nos ministérios em Brasília, converso sobre a CEA, o PAC da Água. O povo quer água e vejo que dá pra gente reconstruir, eu tenho convicção que a decisão que o povo tomou vai fazer esse Estado mudar pra melhor. Tenho noção da responsabilidade que é governar, mas tenho tranqüilidade que com as decisões corretas o povo vai se levantar.
P: O senhor tem algum agradecimento para fazer?
Camilo: Não tem palavra que descreva meus sentimentos de gratidão de ter tido a oportunidade de receber tanta confiança, carinho e emoção das pessoas. Não tem como eu pegar dez, cem, mil palavras pra descrever o que eu sinto, o que senti durante toda a campanha e continuo vivendo esse sentimento nas ruas. As pessoas me abordam e eu percebo essa confiança. Gostaria que esse natal fosse muito melhor. Não posso somente agradecer, mas vou assumir o compromisso de que vamos fazer outros natais muito melhores para o povo. É isso que as pessoas esperam do nosso partido, de mim, e vamos retribuir com muito trabalho, aliás, já estamos trabalhando, mas vamos fazer muito mais pra devolver a dignidade, auto-estima e orgulho das pessoas de dizerem “eu sou amapaense, uma terra boa, maravilhosa, que está se desenvolvendo”, essa é minha obsessão, do PSB, de desenvolver o Amapá para devolver a dignidade, porque é isso que as pessoas têm o direito de viver, ter os serviços, saúde e educação.
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