sábado, 9 de novembro de 2013

O 'modus operandi' de Sarney na tentativa de acabar com a Floresta Estadual do Amapá

Nesta sexta-feira, 8, para surpresa de todos os que defendem o desenvolvimento sustentável das florestas do Amapá, o juiz da 2ª Vara da Justiça Federal, João Bosco, concedeu liminar em favor da Associação dos Pequenos e Médios Agricultores do Assentamento, proclamando inconstitucional a lei que cria a Flota.

Do MZ Portal

Ontem, o senador José Sarney desembarcou no Estado sendo recebido, como de costume, pela corte de políticos da direita conservadora amapaense - ex-governador Waldez Goes, Gilvam Borges, Antônio Feijão, deputado Eider Pena, Luiz Henrique representante do MDA no Amapá -, dentre outros políticos, alguns desses assíduos frequentadores das operações da Polícia Federal no Amapá.
Qual a ligação entre esses dois fatos?

Para responder a essa pergunta, dois fatos precisam ser analisados:

1 - Toda vez que o senador Sarney vem ao Amapá - e isso não é muito constante -, para marcar a sua presença, ele cria um fato político midiático de modo a fazer parecer que ainda tem força política suficiente para interferir nas questões estaduais - mesmo que sejam contrárias ao desenvolvimento do Estado e sempre ligadas a interesses conservadores;

2 - É de conhecimento público que o juiz João Bosco nutre de profunda simpatia pelo senador Sarney - em várias ocasiões já demonstrou isso -, coisa que em nada desabona a conduta do magistrado, mas deixa clara a sua ligação com o ex-presidente.

Diante dessas duas situações, pergunta-se: o fato de o juiz João Bosco ter concedido a liminar justamente no período em que Sarney se encontra no Estado foi uma mera coincidência ou uma estratégia deliberada para reforçar uma possível candidatura à reeleição de Sarney?

Se a intenção foi angariar capital eleitoral, Sarney fez uma jogada de alto risco revelando sua preferência pelos poderosos, que vêm rapinando as riquezas amapaenses há anos, e se colocou em oposição aos interesses dos pequenos agricultores, que, nesse processo, estão sendo usados como massa de manobra pelos grupos econômicos poderosos que querem ampliar seus domínios sobre a Flota.

Por que querem acabar com a Flota?

O govenador Camilo Capiberibe, durante a cerimônia de posse do Conselho Consultivo da Floresta Estadual do Amapá (Flota), disse que é estranha a decisão do juiz Bosco. Camilo informou que a Advocacia Geral da República (AGR) emitiu parecer afirmando que é legítimo, e mesmo uma obrigação, o Governo do Estado fazer a gestão sobre as florestas estaduais.

"Não olhamos apenas a natureza, mas estamos transformando seu potencial sem destruí-la e isso vai de encontro aos interesses dos que querem derrubar a floresta. Vai de encontro aos interesses dos que atrasaram o desenvolvimento do Amapá", ponderou o governador.

Após a cerimônia, Camilo também se manifestou no microblog twitter:

"O mais perverso é que o discurso político de combate a utilização sustentável da Flota se baseia na suposta defesa do interesse dos pequenos. Não vamos permitir que façam isso no Amapá. Não vamos aceitar que os representantes do latifúndio se disfarcem de defensores dos pequenos. Dos que defendem um modelo concentrador de renda e de poder nas mãos de poucos e que aportou no Brasil em 1500 com as capitanias hereditárias."

O senador João Capiberibe, presente na mesma cerimônia, lembrou que "a Floresta Estadual do Amapá foi criada em 2006 e por que só agora querem considerá-la ilegal?" E ainda perguntou: "Por que os mesmos parlamentares que a criaram querem agora destruí-la? A resposta é uma só: porque, agora, o governador está melhorando a vida coletiva de quem mora na floresta. Porque o governo está construindo uma política para todos e não somente para alguns, e isso incomoda aqueles que não querem o desenvolvimento do Amapá", sentenciou o senador.

Na mesma linha, o senador Randolfe Rodrigues disse que, com a posse do Conselho, não serão mais os poderosos que irão definir o uso da floresta, mas sim a sociedade. "A Flota foi criada com um propósito, que, certamente, não era ajudar os pequenos agricultores. Mas, agora, não vamos permitir que a nossa riqueza seja dilapidada em nome do interesse de poucos, e o trabalho desse Conselho será de fundamental importância para construir uma política que beneficie a coletividade", pontuou o senador.

Será que Sarney, do ponto de vista eleitoral, escolheu o lado certo para ficar? Se realmente vier candidato, as urnas vão dizer.

Nenhum comentário: