A
Funasa no Amapá é controlada pelo PMDB de José Sarney e Gilvam Borges
desde a década de 90, e todos os superintendentes nomeados se meteram em
encrencas e foram condenados pelo Tribunal de Contas da União, entre
eles o ex-deputado federal Gervásio Oliveira e o servidor Abelardo
Oliveira (demitido do serviço público), além de funcionários de diversos
setores da instituição
Paulo Silva / Amapá 247 - Após saquear o
Executivo estadual do Amapá no período 2003/2010 – estima-se um rombo de
mais de R$ 1,5 bilhão – o grupo da chamada “HARMONIA”, que provocou
sete operações da Polícia Federal dentro do governo do Estado, passou a
atacar os cofres dos órgãos federais, com especial destaque para a
Fundação Nacional de Saúde (Funasa), alvo de duas operações da PF entre
2011/2013.
A
Funasa no Amapá é controlada pelo PMDB de José Sarney e Gilvam Borges
desde a década de 90, e todos os superintendentes nomeados se meteram em
encrencas e foram condenados pelo Tribunal de Contas da União, entre
eles o ex-deputado federal Gervásio Oliveira e o servidor Abelardo
Oliveira (demitido do serviço público), além de funcionários de diversos
setores da instituição.
A Operação Citrus, desencadeada nesta
sexta-feira 22, pela Polícia Federal, é resultado de cinco meses de
investigações que apuraram desvio de mais de R$ 45,5 milhões em
convênios assinados pela Funasa com as prefeituras de Oiapoque, na
fronteira com a Guiana Francesa, e Laranjal do Jari, no sul do Estado. O
superintendente da Funasa, José Roberto Galvão, a ex-prefeita de
Laranjal do Jari, Euricélia Cardoso (PP) e Agnaldo Rocha, ex-prefeito de
Oiapoque, foram presos. Meses antes da operação, a PF esteve por
diversas vezes na sede da Funasa buscando documentos. Galvão, Euricélia e
Agnaldo são ligados a Gilvam Borges e ao senador Sarney.
Mas a primeira operação da polícia
federal a atingir os esquemas de corrupção da Funasa no Amapá foi a
“Carniça”, deflagrada em 2011, quando a PF descobriu que o dinheiro
público destinado ao atendimento médico indígena foi desviado para a
campanha da família de Gilvam Borges, então no mandato de senador.
À
época, um relatório de 389 páginas da Controladoria-Geral da União
comprovou o que se suspeitava na Funasa do Amapá: fraudes em licitações;
compras de remédios e outros produtos com preços acima dos praticados
no mercado, além de pagamentos indevidos por serviços não prestados. A
CGU calculou só o prejuízo financeiro em R$ 6,2 milhões. Entre 2005 e
2009, a Funasa gastou R$ 34 milhões com saúde indígena.
Os
relatórios da CGU expuseram a influência do então senador Gilvam nas
atividades da Funasa no Amapá. O caso mais significativo envolveu um
convênio firmado em 2006 entre a Funasa e uma ONG, a Associação dos
Povos Indígenas do Tumucumaque (Apitu). Em três anos, a Apitu recebeu R$
6 milhões da Funasa. Segundo a CGU, o prejuízo para os cofres públicos
nesse convênio chegou a R$ 2,8 milhões.
O
assombro não estava na dimensão dos desvios, mas no destino final
deles. Depois de receber os recursos do governo, a Apitu repassou R$ 667
mil à AFG Consultores Ltda. Os serviços, diz o relatório, nunca foram
prestados. A PF quebrou o sigilo bancário da AFG e mostrou o caminho
percorrido pelo dinheiro. Das contas da AFG, os recursos saíram para
contas dos comitês eleitorais do PMDB no Amapá, a fim de financiar as
campanhas a prefeito de dois irmãos de Gilvam. Um deles, Geovani Borges,
compartilhou o mandato de senador com o irmão: volta e meia um tirava
licença para que o outro exercesse o mandato em Brasília. Em julho de
2008, Geovani exercia o mandato de senador quando a AFG passou R$ 150
mil ao comitê de sua campanha à prefeitura de Santana, no Amapá. Esse
dinheiro era quase um terço de tudo o que Geovani declarou à Justiça
Eleitoral. Ele perdeu a elei ção para prefeito.
De
acordo com sua prestação de contas da campanha a prefeito de Mazagão,
também no Amapá, Geodilson Borges, o outro irmão de Gilvam, informou que
recebeu R$ 40 mil da AFG. Em entrevistas a revista ÉPOCA, Gilvam e
Geovani só reconheceram o financiamento depois de ser informados que a
doação está registrada na Justiça Eleitoral. Geodilson estava no centro
das investigações. Foi ele quem aproximou o clã Borges de Henry Williams
Rizzardi e Andréia Fernandes Gonçalves, donos da AFG. Andréia e Henry
formam um casal que, segundo a PF, aplicou golpes em Brasília e em uma
dezena de municípios. Os dois foram presos na Bahia e mandados para o
Amapá, onde passaram cinco dias na cadeia. Giodilson é o atual prefeito
de Mazagão, eleito em 2012.
O
maior desfalque no convênio da Funasa com a ONG Apitu foi na
contratação de empresas de táxi aéreo. Em depoimento à PF, a servidora
Maria do Socorro Tavares Miranda, então responsável pelos pregões
eletrônicos da Funasa, contou que foi procurada pelo empresário
Geodalton Pinheiro Borges, caçula dos 13 irmãos Borges. Segundo Maria
Tavares, Geodalton pediu a ela que manipulasse o pregão 15/2009 e
contratasse a empresa Rio Norte Táxi Aéreo para atender os índios do
Amapá e norte do Pará.
OS
DONOS DA FUNASA - A Fundação Nacional de Saúde, como quase todo órgão
público, tem dono. Nos últimos anos, ela foi dividida entre PT e PMDB.
No Amapá, onde aconteceram os crimes, a Funasa pertence à esfera de
influência do ex-senador Gilvam Borges, aliado da família do também
senador José Sarney. Ambos são do PMDB. Gilvam é um político apenas
folclórico, e ficou conhecido no Congresso mais por andar de sandálias
que por suas ideias. Em 2009, descobriram que nove parentes de seu
principal assessor foram nomeados para cargos no Senado.
Duas características
fazem com que a Funasa seja um dos órgãos mais ambicionados por
políticos: verbas polpudas, muitos cargos e uma enorme capilaridade.
Além dos índios, a fundação responde por obras de saneamento e ações de
saúde no interior. Nos Estados mais pobres, ela tem um papel essencial. O
PMDB de José Sarney e Gilvam Borges assumiu o seu controle em 2005. No
governo Lula, o então ministro da Saúde, José Temporão, chegou a dizer
que a gestão da Funasa era “de baixa qualidade e corrupta”
Se
os episódios da Funasa guardam uma lição é a de mostrar por que os
políticos, com destaque para os do PMDB, se digladiam por postos no
governo. Em alguns (raros) casos, a ocupação se dá para atender a
exigências técnicas ou programáticas. Mas na maioria das vezes é apenas
para empregar aliados e, assim, alocar verbas a seus redutos eleitorais.
Ou, pior, para financiar campanhas eleitorais. Ou, ainda muito pior,
para pura e simplesmente surrupiar dinheiro público. (Com informações da revista Época e da CGU)
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