Polícia Federal queria prender o empresário nesta semana, mas antecipou a operação toque de midas por temer vazamento
HUGO MARQUEShttp://www.istoe.com.br/reportagens/11261_COMO+EIKE+SAIU+DO+ALVO
Por
muito pouco o empresário Eike Batista não ocupou também uma cela da
Polícia Federal uma semana depois das prisões do banqueiro Daniel
Dantas, do megainvestidor Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta. Se
dependesse do cronograma inicialmente planejado pelos policiais
responsáveis pela Operação Toque de Midas, ela só teria sido concluída
nesta semana. E incluiria o pedido de prisão de Eike. O vazamento de
informações de que a operação seria realizada fez com que a PF no Amapá
acelerasse seus procedimentos. Para evitar a possibilidade de que
documentos viessem a desaparecer, a polícia resolveu priorizar as
operações de busca e apreensão em 12 pontos distintos de Macapá, Belém e
do Rio de Janeiro. Na casa de Eike, no Jardim Botânico (Rio de
Janeiro), os policiais, de posse de um mandado da Justiça Federal,
recolheram computadores, agendas e documentos. Eles procuravam provas de uma licitação fraudulenta para
a concessão de uma estrada de ferro no Amapá e de sonegação fiscal na
extração e transporte de minérios. O superintendente da PF no Amapá,
Anderson Rui Fontel de Oliveira, lamenta pelo vazamento da operação. "A
gente teve certeza de que houve vazamento porque a empresa peticionou
aqui, querendo acesso aos autos", diz o superintendente. "O
desembargador deu acesso aos autos, o que nos obrigou a correr com a
operação."
Envolvido ou não com as irregularidades,
Eike já amarga imensos prejuízos com a Operação Toque de Midas. Ao
lançar ações da empresa OGX na Bolsa de Valores em junho, o empresário
ganhou R$ 24 bilhões. Com a deflagração da operação da PF, suas empresas perderam R$ 5 bilhões em um único dia,
cerca de 10% do valor de mercado do grupo. A operação também ameaça
atrapalhar ainda mais os negócios de Eike. Em janeiro, a multinacional
da mineração Anglo-American ofereceu US$ 5,5 bilhões pelo controle da
empresa de mineração MMX. A operação desencadeada pela PF provocou o
adiamento da compra. "A ação da PF é infundada", defende-se Eike. Toque
de Midas é uma referência ao rei Midas, que transformava tudo o que
tocava em ouro.
O empresário contratou o exministro da
Justiça Márcio Thomaz Bastos para defendê-lo. "Pelo que eu li do
inquérito até agora, o Eike não está envolvido", diz o advogado. Mas há
outro problema. A documentação recolhida pela PF será enviada à Receita
Federal nos próximos dias, para averiguar a suspeita de sonegação
fiscal. As investigações da PF apontam como suspeita a sociedade de
Mineração Pedra Branca do Amapari, integrante do grupo MMX. Fontes da
Receita em Brasília informaram que está sendo preparada uma devassa
fiscal em todas as empresas de Eike.
O
Ministério Público Federal no Amapá sustenta que há indícios de
envolvimento da empresa MMX com um esquema que teria fraudado a
licitação para a concessão da estrada de ferro que liga os municípios de
Serra do Navio e Santana, um trecho de 190 quilômetros. Essa suposta
fraude teria tido a conivência do governo do Amapá - que também teve
computadores e documentos apreendidos pela PF. A concessão foi obtida em
2005 pela Acará Empreendimentos Ltda. - numa licitação dirigida,
segundo a PF e o MP - e posteriormente foi repassada à MMX - o que
contraria a lei de licitações, que veta a tercerização.
A PF chegou à empresa de Eike através do
funcionário da Receita Federal Braz Martial Josaphat, que fazia a
intermediação entre a MMX e o governo do Amapá. Suspeito pelo desvio de
R$ 40 milhões da Secretaria da Saúde do Estado, Josaphat estava sendo
monitorado pela PF. Com isso, os agentes acabaram esbarrando na suposta
licitação irregular.
O delegado federal Fábio Tamura e o
procurador da República Douglas Santos Araújo começarão a cruzar as
informações e a ouvir os depoimentos de vários suspeitos de envolvimento
com as fraudes.
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