Denúncia feita ao Conselho de Ética do Senado taxa Randolfe de mentiroso
Afirmação é sustentada nas
negativas feitas pelo senador, sobre acusações de propinagem. Depois do
laudo de Molina, comprovando assinaturas, ele mudou o discurso
O mais novo capítulo da história que tem
revelado o rosto por trás da máscara de moralidade usada pelo senador
Randolfe Rodrigues começou a ser revelado há cerca de duas semanas. No
último dia 25 de maio, o Presidente do Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar do Senado Federal, João Alberto Souza recebeu uma denúncia
contra o político do PSOL do Amapá. Mais uma para engrossar os
calhamaços de papel que têm desembarcado em Brasília, desde março e
mostrado ao Brasil um Randolfe Rodrigues bem diferente daquele que se
levantou contra Demóstenes Torres e o derrubou do Senado da República. O
crime foi o mesmo pelo qual ele é hoje acusado, corrupção. Os eleitores
do senador mais jovem do Brasil, também têm assistido atônitos, às
revelações bombásticas e semanais sobre as práticas denunciadas e
supostamente praticadas por Rodrigues em sua trajetória política, que
vai da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, até a chegada ao
Senado, presente da Operação Mãos Limpas deflagradas curiosamente às
vésperas da eleição de 2010.
De acordo com a denúncia entregue ao
Conselho, Randolfe Rodrigues é um mentiroso e faltou com decoro
parlamentar. A afirmação é sustentada com base nas declarações dadas
pelo senador, quando ele usou a tribuna e negou veementemente o
recebimento de propina paga pelo então governador João Alberto
Capiberibe em troca de apoio político entre os anos de 1999 a 2002,
período em que Randolfe Rodrigues era deputado estadual eleito pelo PT.
Ainda na tribuna, o parlamentar também declarou serem falsas as
assinaturas atribuídas a ele, que constam nos recibos reconhecidos em
cartório no valor de R$ 20 mil. Seria esta a quantia estipulada por
Capiberibe para comprar o voto favorável de Randolfe em tudo que fosse
de interesse do governo.
O discurso inflamado no plenário foi
tido como mentiroso a partir do resultado da perícia feita nas
assinaturas do senador. O documento é respaldado por ninguém menos que
Ricardo Molina de Figueiredo o mais renomado profissional da perícia
forense do País. Molina trabalhou no "Caso PC Farias" e foi peça
fundamental quando contraditou a tese de Badan Palhares, dando à
polícia, elementos novos e contundentes que levantaram suspeitas contra o
outro perito. Molina, em seu laudo grafotécnico afirma categoricamente
que foi Randolfe Rodrigues quem assinou os recibos atestando o
recebimento de R$ 20 mil. De acordo com as denúncias, teria sido esta a
quantia que engordou o salário do então deputado que recebia pouco mais
de R$5 mil. Ainda no laudo, o perito também concluiu não ter havido
qualquer montagem ou transposição. O fato fez mudar o discurso do
senador, que rapidamente reconheceu ter assinado os papéis deixando de
lado os ataques ferozes aos adversários. Mas foi só. O passo seguinte de
Randolfe Rodrigues foi o silêncio. Uma mudez que levanta inúmeras
dúvidas e especulações sobre sua conduta. Afinal, ele começou o mandato
aproveitando à exaustão os holofotes e flashes da imprensa nacional.
Pronunciava-se diariamente em programas televisivos que iam do
jornalístico ao humorístico, sempre criticando a conduta de colegas
acusados de envolvimento com fatos ilícitos. Foi um dos mentores da CPI
que investigou as ligações escusas do bicheiro Carlinhos Cachoeira com
políticos de peso e renome no Congresso Federal. Um deles, Demóstenes
Torres, transformado em alvo e eliminado por Randolfe. Estaria surgindo
um novo caçador de corruptos a exemplo de Fernando Collor de Melo, que
usou a perseguição aos "marajás" de Brasília como marketing de campanha e
foi eleito Presidente da República, para logo em seguida ser tragado
para dentro de seu próprio inferno pessoal. Randolfe armou praticamente a
mesma estratégia. Escolheu a bandeira política que mais comove e
emociona o eleitor, o combate à corrupção. A vitória nas eleições veio
de bandeja e já que tudo estava perfeito, agora bastava mirar em um alvo
e mostrar serviço. Ele só esqueceu que "pegadas" e "digitais" sempre
ficam no caminho. E elas são, hoje, as inúmeras assinaturas que constam
nos recibos periciados e que podem embasar até mesmo um pedido de
cassação de mandato a ser feito ao Conselho de Ética do Senado. A
denúncia endereçada ao senador João Alberto Souza, com recebimento em 25
de maio de 2013, como primeiro passo pede a intimação de Randolfe
Rodrigues considerando o número substancial de itens que o incriminam,
entre eles, as assinaturas periciadas e de autoria confirmada por
Ricardo Molina, que contraditaram o senador e o transformaram de arauto
da moralidade em mentiroso, em um curto período de tempo. Cabe ao
Conselho, dar continuidade à ação chamando Randolfe Rodrigues para ser
ouvido, como pede a denúncia de onze páginas.
Randolfe e seus bens
Mas as denúncias contra o senador
Randolfe vão além do recebimento de propina. Um levantamento divulgado
semana passada pela Tribuna Amapaense mostrou inúmeros imóveis com
propriedade atribuída a ele e colocados em nome de terceiros, no caso a
mãe e o padrasto. O montante dos bens relacionados chega a R$ 5
milhões, algo impossível de ser adquirido com o salário que ele diz
ganhar como professor, algo em torno de R$3 mil, ou com os vencimentos
do Senado, que chegam a R$26.723,13. Mais uma pergunta se faz diante de
tais informações: De onde veio o dinheiro para comprar casas, galpões e
prédios espalhados por Macapá? Assim como as outras, Randolfe Rodrigues
calou diante desta pergunta e permanece mudo. Ele também não disse nada
sobre o convênio auditado pelo Tribunal de Contas do Estado na época em
que era presidente do Centro de Juventude Chaguinha, onde foram
encontradas inúmeras irregularidades que vão da falsificação de
assinaturas a endereços falsos nas propostas de prestação de serviço. A
aprovação das contas de Randolfe, na época, causou estranheza e o caso
foi parar no Ministério Público, que afastou conselheiros e funcionários
do alto escalão do TCE. O convênio entre GEA e Centro Chaguinha foi
assinado quando Randolfe ainda sonhava com a Assembleia Legislativa. O
governador era João Alberto Capiberibe, também acusado nas denúncias
atuais feitas ao Senado, Tribunal Superior Eleitoral e Procuradoria da
República, de ter pago "mensalinho" ao hoje senador do PSOL do Amapá.
Ambos têm o nome nos escândalos que levaram o Amapá a ser projetado de
forma negativa no cenário nacional. Capiberibe já havia se antecipado
quando foi cassado por compra de votos e recebeu o título de ser o
primeiro senador do Brasil nesta condição. O desfecho para eles está nas
mãos dos políticos e ministros de Brasília, enquanto por aqui o que
existe é apenas o silêncio.
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