sábado, 15 de junho de 2013

Presidente do Conselho de Ética do Senado dá prazo pra Randolfe se defender de acusações

Denúncia feita ao Conselho de Ética do Senado taxa Randolfe de mentiroso
Afirmação é sustentada nas negativas feitas pelo senador, sobre acusações de propinagem. Depois do laudo de Molina, comprovando assinaturas, ele mudou o discurso


O mais novo capítulo da história que tem revelado o rosto por trás da máscara de moralidade usada pelo senador Randolfe Rodrigues começou a ser revelado há cerca de duas semanas. No último dia 25 de maio, o Presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal, João Alberto Souza recebeu uma denúncia contra o político do PSOL do Amapá. Mais uma para engrossar os calhamaços de papel que têm desembarcado em Brasília, desde março e mostrado ao Brasil um Randolfe Rodrigues bem diferente daquele que se levantou contra Demóstenes Torres e o derrubou do Senado da República. O crime foi o mesmo pelo qual ele é hoje acusado, corrupção. Os eleitores do senador mais jovem do Brasil, também têm assistido atônitos, às revelações bombásticas e semanais sobre as práticas denunciadas e supostamente praticadas por Rodrigues em sua trajetória política, que vai da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, até a chegada ao Senado, presente da Operação Mãos Limpas deflagradas curiosamente às vésperas da eleição de 2010. 
 
De acordo com a denúncia entregue ao Conselho, Randolfe Rodrigues é um mentiroso e faltou com decoro parlamentar. A afirmação é sustentada com base nas declarações dadas pelo senador, quando ele usou a tribuna e negou veementemente o recebimento de propina paga pelo então governador João Alberto Capiberibe em troca de apoio político entre os anos de 1999 a 2002, período em que Randolfe Rodrigues era deputado estadual eleito pelo PT. Ainda na tribuna, o parlamentar também declarou serem falsas as assinaturas atribuídas a ele, que constam nos recibos reconhecidos em cartório no valor de R$ 20 mil. Seria esta a quantia estipulada por Capiberibe para comprar o voto favorável de Randolfe em tudo que fosse de interesse do governo. 


O discurso inflamado no plenário foi tido como mentiroso a partir do resultado da perícia feita nas assinaturas do senador. O documento é respaldado por ninguém menos que Ricardo Molina de Figueiredo o mais renomado profissional da perícia forense do País. Molina trabalhou no "Caso PC Farias" e foi peça fundamental quando contraditou a tese de Badan Palhares, dando à polícia, elementos novos e contundentes que levantaram suspeitas contra o outro perito. Molina, em seu laudo grafotécnico afirma categoricamente que foi Randolfe Rodrigues quem assinou os recibos atestando o recebimento de R$ 20 mil. De acordo com as denúncias, teria sido esta a quantia que engordou o salário do então deputado que recebia pouco mais de R$5 mil. Ainda no laudo, o perito também concluiu não ter havido qualquer montagem ou transposição. O fato fez mudar o discurso do senador, que rapidamente reconheceu ter assinado os papéis deixando de lado os ataques ferozes aos adversários. Mas foi só. O passo seguinte de Randolfe Rodrigues foi o silêncio. Uma mudez que levanta inúmeras dúvidas e especulações sobre sua conduta. Afinal, ele começou o mandato aproveitando à exaustão os holofotes e flashes da imprensa nacional. Pronunciava-se diariamente em programas televisivos que iam do jornalístico ao humorístico, sempre criticando a conduta de colegas acusados de envolvimento com fatos ilícitos. Foi um dos mentores da CPI que investigou as ligações escusas do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos de peso e renome no Congresso Federal. Um deles, Demóstenes Torres, transformado em alvo e eliminado por Randolfe. Estaria surgindo um novo caçador de corruptos a exemplo de Fernando Collor de Melo, que usou a perseguição aos "marajás" de Brasília como marketing de campanha e foi eleito Presidente da República, para logo em seguida ser tragado para dentro de seu próprio inferno pessoal. Randolfe armou praticamente a mesma estratégia. Escolheu a bandeira política que mais comove e emociona o eleitor, o combate à corrupção. A vitória nas eleições veio de bandeja e já que tudo estava perfeito, agora bastava mirar em um alvo e mostrar serviço. Ele só esqueceu que "pegadas" e "digitais" sempre ficam no caminho. E elas são, hoje, as inúmeras assinaturas que constam nos recibos periciados e que podem embasar até mesmo um pedido de cassação de mandato a ser feito ao Conselho de Ética do Senado. A denúncia endereçada ao senador João Alberto Souza, com recebimento em 25 de maio de 2013, como primeiro passo pede a intimação de Randolfe Rodrigues considerando o número substancial de itens que o incriminam, entre eles, as assinaturas periciadas e de autoria confirmada por Ricardo Molina, que contraditaram o senador e o transformaram de arauto da moralidade em mentiroso, em um curto período de tempo. Cabe ao Conselho, dar continuidade à ação chamando Randolfe Rodrigues para ser ouvido, como pede a denúncia de onze páginas. 

Randolfe e seus bens           

Mas as denúncias contra o senador Randolfe vão além do recebimento de propina. Um levantamento divulgado semana passada pela Tribuna Amapaense mostrou inúmeros imóveis com propriedade atribuída a ele e colocados em nome de terceiros, no caso a mãe e o padrasto.  O montante dos bens relacionados chega a R$ 5 milhões, algo impossível de ser adquirido com o salário que ele diz ganhar como professor, algo em torno de R$3 mil, ou com os vencimentos do Senado, que chegam a R$26.723,13. Mais uma pergunta se faz diante de tais informações: De onde veio o dinheiro para comprar casas, galpões e prédios espalhados por Macapá? Assim como as outras, Randolfe Rodrigues calou diante desta pergunta e permanece mudo. Ele também não disse nada sobre o convênio auditado pelo Tribunal de Contas do Estado na época em que era presidente do Centro de Juventude Chaguinha, onde foram encontradas inúmeras irregularidades que vão da falsificação de assinaturas a endereços falsos nas propostas de prestação de serviço. A aprovação das contas de Randolfe, na época, causou estranheza e o caso foi parar no Ministério Público, que afastou conselheiros e funcionários do alto escalão do TCE. O convênio entre GEA e Centro Chaguinha foi assinado quando Randolfe ainda sonhava com a Assembleia Legislativa. O governador era João Alberto Capiberibe, também acusado nas denúncias atuais feitas ao Senado, Tribunal Superior Eleitoral e Procuradoria da República, de ter pago "mensalinho" ao hoje senador do PSOL do Amapá. Ambos têm o nome nos escândalos que levaram o Amapá a ser projetado de forma negativa no cenário nacional. Capiberibe já havia se antecipado quando foi cassado por compra de votos e recebeu o título de ser o primeiro senador do Brasil nesta condição. O desfecho para eles está nas mãos dos políticos e ministros de Brasília, enquanto por aqui o que existe é apenas o silêncio.

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