domingo, 5 de maio de 2013

Agressões contra o governador e o Estado versus criminalização dos movimentos sociais

A diferença entre criminalização dos movimentos sociais e o repúdio à direção do Sinsepeap sobre atentados contra instituições do Estado Democrático.

*Por Heverson Castro

Durante os oito anos de neoliberalismo do governo FHC, a direita construiu um discurso de criminalização da luta dos movimentos sociais contra as políticas privatizantes, em especial ao MST na reforma agrária. As maiores ocupações de fazendas improdutivas aconteceram durante o governo FHC, que tentava criminalizar as ocupações do movimento. O assunto virou pauta de novela. Quem não se lembra da novela "O Rei do Gado", onde a luta do MST foi retratada em parte pela TV Globo?

Durante décadas de vida do MST, da CUT e de outros movimentos sociais que lutam pela Reforma Agrária, nunca vimos essas organizações tentando agredir o presidente da república, governadores, prefeitos, parlamentares e demais autoridades como um superintendente do INCRA. E o MST sempre foi radical nas suas cobranças e talvez seja um dos movimentos mais revolucionários da esquerda latino-americana, mas nunca vi "sem terra" usando da violência para agredir os representantes das instituições do Estado Democrático de Direito.

Ao contrário, o MST e seus militantes sempre foram vitimas da repressão de governos de direita e até mesmo do campo popular. Um dos líderes do MST, João Pedro Stédile, sempre defendeu a paz na luta pela terra e manifestações democráticas, forçando e tencionando governos para um diálogo permanente com o movimento.

Nunca vi o Stédile defendendo agressões, violência, atentados ao patrimônio público ou atos parecidos com o que aconteceu na frente da UEAP, onde cabos eleitorais de partidos de oposição ao governo da Frente Popular agrediram fisicamente a autoridade maior do Estado do Amapá e quando falo autoridade maior, me refiro não à pessoa chamada Camilo Capiberibe, mas ao governador eleito democraticamente pelo sufrágio universal, onde povo lhe outorgou o direito constitucional de comandar o Amapá por quatro anos.  Mesmo que alguns possam discordar e isso é um direito da oposição e de qualquer cidadão, discordar da forma de governar e das medidas tomadas pelo governador, nada justifica o uso da violência ou atos de vandalismo que de longe representam o que rege nossa Constituição sobre as liberdades democráticas e a livre manifestação de pensamento. Isso não é democracia, mas sim um atentado as regras do jogo democrático.

Agora discordar não é atentar contra a democracia e as instituições democráticas que a esquerda democrática sempre respeitou e o PT foi gestado no final da década de 1970, rejeitando modelos autoritários de organizações de esquerda que defendiam a violência e a luta armada como forma de tomar de assalto do Estado.

Portanto, existe uma grande diferença entre o que aconteceu na década de 1990 com o governo FHC e o que acontece em governo de direita em alguns governos estaduais e o que acontece na atual conjuntura do Amapá. Diferenciar criminalização dos movimentos sociais e sindicais e o que está acontecendo hoje no Amapá não é uma tentativa de tentar criminalizar o Sinsepeap e a luta dos professores, mas sim o repúdio de parte da sociedade que discorda dessa forma de lutar por seus direitos. Se assim fosse, o governador poderia ter feito contra os manifestantes a mesma coisa que foi feita em Eldorado dos Carajás contra o MST.

O Sinsepeap por meio da maioria de sua direção, sim uma parte majoritária da direção, porque existe oposição de base e até mesmo dentro da atual diretoria, pessoas que discordam dessa linha dura adotada pelo PSOL, PSTU e PDT dentro do movimento grevista que num claro movimento golpista em outro momento chegaram a pedir o impeachment do governador eleito democraticamente nas urnas, se aliando a turma que desviou milhões da educação, foi presa na Operação "Mãos Limpas" da PF( Waldez Góes, Marília Góes e Roberto Góes) e ao ex-presidente da Assembléia Legislativa, Moisés Souza, afastado sob suspeitas de corrupção. O objetivo era desestabilizar o governo e os partidos da Frente Popular por conta das eleições municipais.

Esse filme eu já vi antes no ano de 2005, onde parte dos setores ditos radicais e de esquerda (PSTU, PSOL) se aliou à direita e a imprensa golpista para tentar derrubar o governo Lula e essa estratégia foi engrossada por parte dos movimentos sociais controlados por esses partidos. Mas em 2006 o povo deu a volta por cima e mandou um recado às elites e parte desses setores ditos radicais que foram a reboque da direita na tentativa de desestabilizar e derrubar o governo popular do PT.

A maioria dos professores que tem compromisso com a sociedade, jamais iriam concordar com atos de violência contra qualquer autoridade ou cidadão, pois o professor é visto como o espelho da sociedade e os professores e a opinião pública, jamais irão adotar como exemplo de cidadão crítico a figura política de pessoas que usam da violência e da agressão como instrumento pra tentar justificar determinada reivindicação política ou de classe.

*Heverson Castro - foi militante estudantil, diretor da UMES-Santana na gestão 2005-2007, Assessor de Juventude na PMS, colunista do jornal Folha do Estado, atualmente apresenta programa de radio jornalismo na rádio Onda Livre em Santana. É blogueiro e militante do PT.

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