sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Com folha inchada, orçamento só garante salário até agosto em Macapá

Cristian Klein / Valor 
 
Além da escassez de filiados qualificados do PSOL, outra forte razão para a preferência de Clécio Luís por nomes técnicos é a necessidade de se reestruturar a Prefeitura de Macapá, que estaria tomada por ineficiência, loteamento e vestígios de corrupção. Clécio afirma que nada menos que 668 funcionários estão vinculados ao gabinete do atual prefeito, quando seriam necessários, segundo suas contas, dez vezes menos, cerca de uns 60. Entre os servidores públicos, constariam até síndicos de pequenos prédios de um conjunto habitacional entregue pela prefeitura.
 
"Há muitas especulações, que dão conta de várias nomeações para o mesmo cargo, o que só vamos saber mesmo quando assumirmos. Mas houve um inchaço durante o período eleitoral que aumentou em 30% o número de funcionários, a maioria em cargos comissionados", afirma Clécio Luís.
 
O prefeito eleito diz que o processo de transição foi conturbado, com falta de colaboração e lances de suposta sabotagem. Ele diz que o orçamento de 2013 foi enviado dentro do prazo legal, até setembro, mas que, depois de perder a eleição, o atual governo teria se mobilizado para atrapalhar. "Os recursos previstos no orçamento só garantem o pagamento de pessoal até agosto", diz.
 
Assessor do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e representante da direção nacional do PSOL na equipe de transição, Luiz Araújo afirma que o primeiro levantamento apontou uma dívida de R$ 78 milhões, que poderia chegar a até R$ 200 milhões, o que representaria mais de um terço do Orçamento de R$ 527 milhões.

O Ministério Público, conta, bloqueou repasses federais para o pagamento de servidores. Algumas categorias estão há quatro meses sem receber, assim como fornecedores da prefeitura.
 
Devido à falta de pagamento que durava sete meses, uma empresa de recolhimento de lixo cancelou os serviços e uma nova entrou sob contrato emergencial, que venceu sábado. "Vou fazer um apelo público para que ela não pare o trabalho", diz Clécio. Caso haja paralisação, há o risco de a cidade ficar por oito dias, até a posse, sem o recolhimento de lixo.
 
"A primeira medida vai ser limpar a cidade. A segunda é fazer uma auditoria nos contratos irregulares", diz Luiz Araújo, que já foi presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e secretário municipal de Educação de Belém.
 
Araújo afirma que há 28 contratos de obras financiadas pela Caixa Econômica Federal paralisados, porque a prefeitura não teria prestado contas ou feito as devidas contrapartidas. "A prefeitura também se apropriou de empréstimos consignados, não repassou o pagamento para bancos e deixou centenas de servidores negativados", afirma.
 
O assessor diz que a estrutura da prefeitura conta ao todo com 31 órgãos, entre os quais 13 secretarias e coordenadorias com status de secretaria.
 
Diante de outras urgências, no entanto, o prefeito afirma que uma reforma administrativa ficará para uma segunda etapa.
 
Clécio lembra que Macapá está no chamado G-100, grupo dos cem municípios de médio porte com os maiores problemas segundo alguns critérios da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), como alta densidade habitacional, alta vulnerabilidade social e baixíssima arrecadação própria.
 
Entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões, ou seja, apenas 10% do orçamento são recolhidos pela prefeitura. Os demais 90% vêm de repasses federais, convênios e emendas parlamentares. É por conta deste panorama que Clécio prefere arrumar a casa antes de qualquer coisa. "Vamos priorizar a técnica para que dela emane a política", diz o prefeito eleito.

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