Da Folha do Estado-AP
Era para Pedra Branca do Amapari, a 186 quilômetros de Macapá, figurar entre os mais desenvolvidos do Estado. Em 2010, fechou o orçamento com R$ 13 milhões, inclusos nesse montante os royalties das mineradores estabelecidas na região. Mas, apesar do volumoso recurso, o município, com mais de 10,7 mil habitantes, e com quase três mil domicílios, não tem água encanada, o atendimento na saúde é precário, falta rede de esgoto, a maioria das ruas e avenidas está sem pavimentação.
Exemplo do abandono, o bairro Renascer, localizado na parte alta da cidade, às proximidades do aeroporto, e com mais de três mil moradores, não tem serviço de água encanada. Há dois anos, a (antiga) mineradora MMX, agora Anglo American, construiu vários poços artesianos, com água de boa qualidade, deixando para a prefeitura a montagem da infraestrutura, contendo rede de encanamento e caixas d'água. O prefeito Antônio José Siqueira da Silva (PV), vulgo “Zezinho”, que cumpre seu segundo mandato, ignorou o acordo com a mineradora e deixou na seca os moradores do Renascer.
Essas são as duas principais denúncias formuladas pelo vereador Wilson de Souza Filho (PSC), a única voz discordante a bradar no plenário da Câmara de Pedra Branca do Amapari contra os crimes praticados por “Zezinho” e seus “asseclas”, conforme denominação do edil oposicionista. Em novembro do ano passado, ele protocolou um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar à fundo as irregularidades urdidas nos escaninhos da prefeitura e que levaram Pedra Branca a bancarrota.
Segundo Wilson de Souza Filho, o prefeito “Zezinho” é manipulado pela família da ex-deputada estadual Francisca Favacho (PMDB) e, como um fantoche, “só faz o que a deputada quer”, comenta o vereador do PSC. Outra situação narrada por Souza Filho igualmente coloca em xeque o caráter do prefeito do PV. “Ele não ostenta riqueza, mas, deixa que os outros roubem por ele. Claro, todo mundo da quadrilha ganha sua parte. Quer um exemplo? Tinha um secretário de Finanças em Pedra Branca, o Antônio Agnaldo de Sá, que segundo nossos levantamentos, amealhou um patrimônio considerável ao longo de seis anos. Antes de assumir o cargo, ele era um sujeito sem posses. Hoje, desfila na cidade a bordo de carrões, a mulher dele também. Mora numa mansão. Tem imóveis, fazendas. A gente fica se perguntando, como um servidor, que ganha R$ 2,2 mil brutos/mês, ficou tão rico desse jeito”.
Enquanto Agnaldo de Sá afronta a população pobre de Pedra Branca ostentando uma fortuna supostamente construída em bases transversas, centenas de famílias sobrevivem desassistidas e com rendas abaixo do salário mínimo, ignoradas pelo prefeito “Zezinho”, que viaja semanalmente para Macapá em busca de diversão fácil e farta. Quando está na capital, costuma reunir amigos em banquetes regados à muito uísque e cerveja. Um dos points mais frequentados por Zezinho, em Macapá, é o Bar e Restaurante “Norte das Águas”, localizado no Complexo do Araxá.
Para Souza Filho, que fez todo esse mapeamento, trata-se de um desrespeito para com a população honesta e trabalhadora de Pedra Branca do Amapari. “Gente simples, que conta com o poder público, e isso é constitucional, para ter uma melhor qualidade de vida. Mas, infelizmente, o que vemos são governantes desviando o dinheiro público, se locupletando, enriquecendo ilicitamente, roubando o que é do povo”, denuncia o vereador, acrescentando que apesar das perseguições e ameaças que vem sofrendo, pretende este ano dar continuidade ao pedido de instalação da CPI das Fraudes em Obras Públicas com o propósito de apurar todas as irregularidades cometidas por “Zezinho” e seus sequazes.
Foram licitações emprenhadas, fraudadas, com cartas marcadas, que beneficiaram pessoas ligadas ao grupo político do prefeito. No entanto, completa Souza Filho, existem mais negociatas, transações obscuras realizadas nos subterrâneos de Pedra Branca do Amapari que precisam ser desmontadas. Esquemas dolosos, afirma o vereador, que tem à frente pessoas ligadas ao poder, “inclusive com mandato recém-adquirido pela força da grana”.
Conforme Wilson Souza Filho, existe em Pedra Branca do Amapari um esquema ilegal de transporte de madeira de lei por meio de caminhões baús de uma conhecida empresa de Macapá. São milhares de toras que saem do município somente após a meia-noite, de forma totalmente ilegal, e que são comercializadas para exportação. O negócio está rendendo milhões de dólares e tem a total anuência do prefeito “Zezinho” que, embora sendo do PV, faz vista grossa para o crime ambiental praticado às escâncaras na gestão dele.
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