Luana Lourenço - Repórter da Agência Brasil
Edição: Denise Griesinger
A presidenta Dilma Rousseff recebeu hoje (10) o relatório final da
Comissão Nacional da Verdade (CNV) e disse que o trabalho do grupo vai
ajudar a afastar “fantasmas de um passado doloroso” e permitir que os
brasileiros conheçam a história das violações aos direitos humanos
durante a ditadura militar para que elas não se repitam.
“Nós,
que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para
que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se
proteger nas sombras do silêncio e da omissão", destacou.
Muito
emocionada, Dilma chorou ao dizer que o Brasil merecia a verdade sobre a
ditadura militar. “Sobretudo merecem a verdade aqueles que perderam
familiares e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de
novo e sempre a cada dia”, disse, com a voz embargada, após interromper
o discurso por causa do choro.
O relatório final da CNV faz um
relato das atividades desenvolvidas durante os dois anos e sete meses de
investigações, além de fatos apurados, conclusões e recomendações. De
acordo com o coordenador do colegiado, Pedro Dallari, uma das conclusões
mais importantes do relatório final é a confirmação de que as graves
violações aos direitos humanos, durante o período da ditadura militar,
foram praticadas de maneira sistemática.
Dilma agradeceu e elogiou o trabalho dos integrantes da comissão e disse
que a conclusão das atividades não representa um ponto final nas
investigações das violações de direitos humanos na ditadura. Segundo
Dilma, o Estado brasileiro vai se “debruçar” sobre o relatório, “olhar
as recomendações e propostas e tirar as consequências necessárias”. A
presidenta citou os trabalhos de comissões da verdade estaduais e
setoriais como complementares ao trabalho do colegiado.
A presidenta Dilma Rousseff se emociona ao receber o relatório final dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade |
Dilma também fez um agradecimento aos órgãos que colaboraram com as
investigações da comissão e aos “homens e mulheres livres que relataram a
verdade para a comissão”, principalmente aos parentes de vítimas e
sobreviventes do período militar. “Presto homenagem e manifesto caloroso
agradecimento aos familiares dos mortos e desaparecidos, aqueles que
com determinação, coragem, generosidade, aceitaram contar suas histórias
e histórias de parentes, amigos, companheiros que viveram tempos de
dor, morte e sofrimento.”
A presidenta ressaltou o trabalho
histórico da comissão e a importância das investigações do grupo para o
reconhecimento do direito à memória – principalmente para as gerações
que nasceram após o período militar – e para a reconciliação nacional,
com valorização dos pactos e acordos que levaram o país à
redemocratização.
“Com a criação desta comissão, o Brasil
demonstrou a importância do conhecimento desse período para não mais
deixá-lo se repetir”, disse. “Conhecer a história é condição
imprescindível para construí-la melhor. Conhecer a verdade não significa
reagir, não deve ser motivo para ódio. A verdade liberta daquilo que
permaneceu oculto”, comparou.
Ao receber o documento de 4,4 mil páginas, que também está disponível na internet,
Dilma disse que a apresentação simultânea para o governo e para a
sociedade mostra que o trabalho da CNV foi isento de interferências e
que é resultado de uma decisão do Estado brasileiro, e não apenas de um
governo.
Criada pela Lei 12.528/2011 e instalada em maio de 2012
para examinar e esclarecer violações de direitos humanos cometidas entre
1946 e 1988, principalmente no período da ditadura militar (1964-1985),
a Comissão Nacional da Verdade terá seus trabalhos encerrados no
próximo dia 16. No relatório final, o grupo sugere a criação de um órgão
público para dar seguimento e continuidade às ações da CNV.
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