A partir deste quarta-feira 13, a cidade de Goiânia (GO), recebe o 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes, a UNE. O evento reúne representantes de 90% das instituições de ensino superior do país e decide os rumos do movimento estudantil burocratizado para os próximos dois anos.
Segundo o campo majoritário da entidade, controlado pela juventude do PC do B (UJS – União da Juventude Socialista) há aproximadamente 20 anos, a UNE prepara-se para realizar seu maior e mais representativo congresso. Dez mil jovens, entre delegados e observadores, devem participar do encontro.
Contestado por parcela do movimento estudantil, o processo eleitoral funciona da seguinte forma: eleições diretas, geralmente organizadas por entidades gerais (DCEs), escolhem delegados que representam suas instituições de ensino nas principais deliberações do congresso, inclusive na escolha da nova diretoria e do presidente. Os delegados são eleitos na proporção de um para cada mil estudantes. Neste ano, estima-se a presença de 4.300 inscritos.
Assim como na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e na CUT (Central Única dos Trabalhadores), a eleição da UNE é congressual. Chapas apresentam teses, que são debatidas e eleitas em plenária final. No último dia do encontro, são votadas propostas consensuais, divergentes, acontece a eleição do presidente e da diretoria, composta proporcionalmente na medida exata dos votos que cada chapa obteve.
Muito bonito na teoria, o processo é frágil na prática e dá margem para uma infinidade de fraudes. Por exemplo, estudantes de várias universidades do Brasil acusam a UJS de “usar a verba do PC do B destinada ao aparelhamento dos movimentos sociais para comprar delegados nas “Uniesquinas” com promessas de festas, shows e churrascos gratuitos”. Dessa forma, chegam ao congresso aos milhares e tornam-se invencíveis nas plenárias.
Ou seja, são acusados de ter um método para perpetuarem-se no poder e manter o controle do movimento estudantil. Mas nos últimos anos, apesar do fôlego com a injeção de recursos via Governo Federal, o tiro começou a sair pela culatra.
“O Congresso é importante porque joga água no moinho das mudanças da educação brasileira, além de reafirmar a longevidade e combatividade da União Nacional dos Estudantes”, afirma Luis Felipe Maciel, diretor da UNE.
Na realidade, o congresso há muito tempo é um teatro pequeno-burguês, com festas homéricas e debates às moscas. As mudanças anunciadas não passam de reformas insuficientes e mantém praticamente intacta a estrutura elitista da educação brasileira, além de aprofundar o processo de privatização do sistema de ensino superior ao tapar o sol com a peneira via PROUNI. A combatividade da UJS – e, por conseqüência, da UNE – hoje sabemos que tinha preço.
“A UNE não nos representa”
Desde a primeira eleição do ex-presidente Lula, basta circular nos diretórios de algumas das principais Universidades brasileiras para escutar a frase acima.
Burocratizada e aparelhada, a entidade perdeu o respeito de boa parte do movimento estudantil, principalmente da mais combativa. Entre os descontentes, estão os quadros independentes e os militantes dos partidos de extrema esquerda.
Nos últimos anos, a maioria das passeatas e mobilizações aconteceu à margem da UNE. Entre as mais importantes, estão a ocupação da reitoria da USP em 2007 e os atos dos estudantes do Movimento Passe Livre em várias cidades do Brasil.
Há alguns meses, entrevistei Augusto Chagas, atual presidente da UNE. Não perdi a oportunidade de tocar no assunto e perguntei como avaliava a organização independente do movimento estudantil atual.
“A UNE representa o conjunto dos estudantes brasileiros. Respeitamos suas opiniões, bandeiras e formas de organização. O mais importante é o estudante se organizar, ser protagonista, ter alguma forma de participação. Temos que respeitar a decisão de qualquer grupo ou organização de participar ou não dos fóruns da UNE”, respondeu Chagas.
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