segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Gravação mostra Rosemiro Rocha tentando coagir testemunhas para livrar Mira Rocha de cassação

Esquema teria sido organizado por Robson, Mira e Rosemiro Rocha para que as testemunhas votassem na deputada

Da redação do jornal A Gazeta

Esquema teria sido organizado por Robson, Mira e Rosemiro Rocha para que as testemunhas votassem na deputada durante a campanha. Funcionários e bolsistas que não votassem seriam demitidos da Prefeitura de Santana, segundo revela a suposta gravação.
 
Em um áudio, supostamente feito por uma das testemunhas no processo que julga a cassação dos mandatos do prefeito de Santana Robson Rocha (PR) e da deputada Mira Rocha (PTB), o ex-prefeito de Santana Rosemiro Rocha (PTB), que é pai dos acusados e réu no processo, estaria tentado subornar as testemunhas para que elas não comparecessem as audiências e não prestassem depoimento.
 
A gravação teria ocorrido na casa do próprio Rosemiro, em novembro, logo após o resultado das eleições e a denúncia contra Robson e Mira no TRE/AP. Estariam presentes ele, um de seus assessores, a testemunha identificada no processo judicial como Jeniffer Coelho da Silva, e o marido da testemunha. Durante a conversa a principal preocupação do ex-prefeito seria proteger a filha, a deputada Mira Rocha, das acusações.
 
Rosemiro prometia contratos administrativos e outros benefícios em troca do silêncio das testemunhas, em um momento da gravação ele teria dito, “Se não puder [com um contrato], eu vou te ajudar de alguma forma. Agora eu não vou dizer o que é e quanto é. É melhor um pássaro na mão do que dois voando”.
 
Ao ser questionado pela testemunha sobre o que ela fazer, e se isso não resultaria em um processo para ela, ele teria dito que iria conversar sobre isso com uma advogada e completou que ela não deveria ir a audiência, “Não vai na audiência. Janeiro eu não vou te prometer, mas eu vou tentar te empregar”, ele ainda garantiu emprego para o marido da testemunha.
 
Intimidação
 
Em um momento Rosemiro chega a usar de ameaça para intimidar as testemunhas, para que elas aceitassem o acordo, “Eu não chamei vocês aqui pra falar dele. Eu chamei vocês porque vocês vão ser minhas testemunhas. Se vocês sacanearem comigo eu f*** com vocês.”
 
Mesmo pressionada a testemunha reafirma o que Robson teria feito com os servidores do contrato administrativo e bolsistas da Prefeitura de Santana “Eu já sabia que ia ser processada. Eu deixei meu depoimento, se eu for processada eu pago. Mas eu falei o que eu sentia, eu desabafei. Foi errado. Em nenhum momento eu menti ali. Todas as coisas que eu publiquei foi verdade. O Robson foi covarde comigo”,  teria afirmou a testemunha.
 
“Antes do natal tu compra o leite do teu filho”,
 
Rosemiro ainda ressalta que um processo seria prejudicial para a testemunha “A advogada da Mira vai entrar contra vocês, vocês vão ter que ir atrás de advogado, isso é ruim pra vocês não é verdade?”.
 
Ao final da gravação o ex-prefeito teria dito que procuraria as testemunhas no dia seguinte e ainda teria dito, “Eu vou resolver. Quando eu digo que vou resolver eu resolvo. Antes do natal tu compra o leite do teu filho”, finalizou.
 
Ao ser procurada pela nossa equipe de reportagem, Jennifer  Silva, afirmou que por orientação jurídica, enquanto o processo tramita, não deve se pronunciar sobre a gravação do áudio.
 
O Caso
 
O relator do processo, juiz Vicente Gomes, apresentou voto pelo recebimento da denúncia da Procuradoria Regional Eleitoral, sendo acompanhado pelos juízes Marconi Pimenta, Fábio Garcia, Stella Ramos e Lívia Peres, mas o juiz Décio Rufino decidiu pedir vista e o julgamento será concluído no dia 4 de novembro.
 
O recebimento da denúncia, que praticamente está decidido, ensejará a instrução de processo criminal contra Mira Rocha, Robson Rocha e Rosemiro Rocha. Também é denunciado Antônio Gilberto Souza Paiva, chefe da Casa da Juventude de Santana.
 
De acordo com os documentos apresentados à Justiça Eleitoral pela Procuradoria Regional Eleitoral do Amapá, o prefeito Robson Rocha, contando com a ajuda do pai e de Antônio Paiva contratava pessoal para trabalhar na prefeitura com a condição de que nas eleições de 2014 votassem em sua irmã Mira Rocha.
 
Para isso, com ajuda da secretaria de Administração, demitia, sem justa causa, servidores temporários que não apoiavam os candidatos indicados pelo prefeito. As demissões ocorreram em período proibido pela legislação eleitoral. 
 
Conforme depoimentos, meses antes das eleições, Robson e Mira Rocha, com participação de Antonio Gilberto Souza Paiva, convocaram servidores temporários e comissionados da prefeitura de Santana para participar de reuniões políticas. Eles teriam prometido aos eleitores a continuidade do vínculo empregatício desde que os votos fossem para os candidatos apoiados pelo prefeito, entre eles Mira Rocha.
 
Mira Rocha e o prefeito sustentam que as demissões se deram em razão da diminuição das receitas da prefeitura, em virtude de suposta redução do repasse de valores dos impostos estaduais ao município; todavia, diz o MPE, essa alegação não se sustenta, conforme provas dos autos.
 
A Secretaria de Estado da Fazenda do Amapá juntou os demonstrativos de repasse de cotas de ICMS e IPVA, relativos aos anos de 2013 e 2014. Estes documentos demonstram que, na verdade, houve um aumento no valor total dos repasses no ano de 2014, conforme tabelas juntadas.
 
Ao contrário, o que ocorreu foi um significativo aumento no número de contratos administrativos no ano de 2014. Oficiada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP), a prefeitura de Santana juntou documentos demonstrando que o quantitativo de servidores com contrato precário com a administração municipal aumentou de 442, em 2013, para 636, em 2014, um acréscimo de 44%. Esse cenário esvazia o discurso de suposta preocupação com as finanças, revelando que o cerne das atenções não era o equilíbrio fiscal, mas sim a busca por votos.
 
Caso sejam condenados, a pena para o prefeito e a deputada é a cassação do mandato. Para o coordenador da Casa da Juventude, a perda da função ou cargo público. Além disso, eles podem ficar  inelegíveis por até oito anos e serem obrigados ao pagamento de multa.
 
Veja alguns trechos da suposta gravação:
 
Testemunha:  O senhor sabia que pode até dar alguma coisa, usar a máquina pública, pode prejudicar até ele?
 
Rosemiro Rocha: O Robson eu não ‘tô’ nem aí, vocês tentaram prejudicar a Mira.
 
(...)
 
Testemunha:  Eu era bolsista, mas ele [Robson] me demitiu eu estava de licença, é por isso que eu quis entrar com a ação. Ele me demitiu de licença, isso é crime.
 
Rosemiro Rocha: Eu não chamei vocês aqui pra falar dele. Eu chamei vocês porque vocês vão ser minhas testemunhas. Se vocês sacanearem comigo eu f*** com vocês.
 
J.S: Claro, eles foram lá em casa e disseram que o senhor queria falar com a gente, a gente veio.
 
(...)
 
Rosemiro: Se não puder, eu vou te ajudar de alguma forma. Agora eu não vou dizer o que é e quanto é. É melhor um pássaro na mão do que dois voando.

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