segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Atestado do caos: Corpo de bebê é incinerado na maternidade de Macapá

Menos de 48 horas após a denúncia do Sindicato dos Médicos referente a morte de seis crianças no Hospital da Criança e do Adolescente, o Governo do Estado teve que admitir nesta sexta-feira que o corpo de um bebê foi cremado "por engano" dentro do Hospital da Mulher Mãe Luzia, única maternidade do Estado

Amapá 247 - De acordo com informações da família o bebê de um mês e três dias morreu na madrugada de quinta-feira (6). No mesmo dia a tarde os pais, Bruna Coutinho (14) e Marcos Willame (18), foram surpreendidos por funcionários do hospital com a informação de que o corpo da filha havia sumido. No dia seguinte a família denunciou o caso a imprensa, obrigando o Governo do Estado a dar uma resposta para o sumiço do corpo do bebê.

Durante coletiva a imprensa o secretário de interino da saúde, Antônio Teles, acompanhado do procurador do Estado, Narson Galeno, justificou o caso afirmando que o corpo do bebê foi cremado em razão "de um erro de protocolo de dispensa de cadáver". Teles disse que o corpo "deveria ter sido entregue a mãe, mas foi colocado junto com restos para incineração".
Bastante nervoso, Antônio Teles, que é secretário de planejamento do Estado, falou que existem vários protocolos para a dispensa de um corpo no referido hospital e, nesse caso, o corpo do bebê foi "dispensado de forma equivocada".

De acordo com informações obtidas pelo Amapá 247 o Hospital da Mulher Mãe Luzia não dispõe de crematório, mas sim de um incinerador de lixo hospitalar, portanto o corpo do bebê pode ter parado no incinerador do referido hospital junto com o lixo.

O bebê registrado como o nome de Eloeny Vitória Coutinho dos Santos nasceu com problemas de cardiopatia no município de Santana. Devido a gravidade do caso a criança foi transferida a quase um mês para a UTI do Hospital da Mulher, vindo a falecer na quinta-feira. Para ter o corpo liberado a família precisou retirar a certidão de nascimento, mas ao procurar o corpo para o velório em enterro, o mesmo havia sumido no hospital.

Caos
O caso reforça as denúncias recentes sobre a grave crise na saúde pública do Estado, apontadas tanto pelo Ministério Público e pelo Sindicato dos Médicos do Amapá (Sindmed), como também pelo próprio Ministério as Saúde.

Relatório do Ministério da Saúde, datada de 15 de abril, que opinou pelo não reconhecimento da decretação de Emergência, qualificou a situação da saúde pública no Amapá como "colapso assistencial", decorrente de "desorganização da gestão e seus processos de trabalho junto aos pontos de assistência".

Em julho, pouco antes de encerrados os 180 dias da "Situação de Emergência" na saúde, decretada pelo governador Waldez Góes em janeiro, sem que, segundo o Ministério Público, medidas de impacto tenham sido implementadas para minimizar os problemas da área, o promotor de justiça André Araújo expediu recomendação ao Estado para que adote um conjunto de medidas administrativas visando garantir o atendimento integral aos usuários do SUS no Amapá.

Após inúmeras inspeções realizadas pela Promotoria da Saúde em hospitais da rede pública e outras unidades de saúde mantidas pelo Estado, foi constatado que, após seis meses, os problemas persistem, com quase total desabastecimento de medicamentos, insumos e correlatos.
"Falta manutenção nos aparelhos de diagnóstico (como raio-x, ultrassons, tomógrafos), nos aparelhos de monitoramento e suporte à vida em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), como respiradores e monitores, há insuficiência de pessoal de leitos, falta estrutura física adequada para a prestação de serviços básicos, dentre outros problemas graves", revelou André Araújo.

Horas antes sumiço do corpo do bebê no Hospital da Mulher o Sindicato dos Médicos denunciou a morte de seis crianças no Hospital da Criança e do Adolescente em um período inferior a uma semana. 

O sindicato aponta ainda uma série de problemas em todos os hospitais do estado, como por exemplo, a falta remédios básicos para o atendimento dos pacientes, além de luvas, gaze, antissépticos, equipamentos para procedimentos cirúrgicos e até água em alguns hospitais.
A categoria ameaça suspender a realização de plantões a partir de setembro, caso o governo não resolva os graves problemas na saúde.

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