Dados são do relatório Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial 2014
Da Agência Brasil
Dados do relatório Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e
Desigualdade Racial 2014 mostram que a população negra entre 12 anos e
29 anos é a principal vítima da violência. O estudo, divulgado nesta
quinta-feira, revela que os estados onde o jovem negro corre mais risco
de exposição à violência estão na Região Nordeste. Alagoas tem o maior
coeficiente do Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) – Violência e
Desigualdade Racial, medido numa escala de 0 a 1.
Em seguida, Paraíba, Pernambuco e Ceará são classificados como tendo
uma alta no índice de vulnerabilidade, de acordo com o levantamento
feito pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), pelo Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, o Ministério da Justiça e a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.
Entre as unidades da Federação com coeficientes abaixo de 0,3 estão São
Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais e o Distrito
Federal.
O indicador inédito incorpora na dimensão da violência a desigualdade
racial e mostra que a cor da pele e o risco de exposição à violência
estão relacionados. O índice será usado pelo Plano Juventude Viva, que
tem o objetivo de reduzir a vulnerabilidade de jovens negros, para
orientar políticas públicas.
O secretário nacional de Juventude, Gabriel Medina, disse que a
violência em Alagoas já havia sido diagnosticada, o que levou o governo
federal a iniciar, pelo estado, a implantação do Juventude Viva. Para
ele, a vulnerabilidade da população negra está ligada a uma questão
histórica e, apesar dos avanços alcançados, a desigualdade ainda é
estrutural. “Essas melhoras não foram suficientes ainda para que a gente
criasse uma igualdade entre brancos e negros. Ainda são os negros que
ganham menos no mercado de trabalho, que têm menos acesso às políticas
públicas e estão sujeitos a maiores dificuldades sociais encaradas no
país”.
O relatório traz ainda comparativos específicos sobre as taxas de
homicídio de negros e brancos. “Os jovens negros no Brasil são duas
vezes e meia mais vítimas de homicídio do que o jovem branco”, alerta a
diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira
Bueno. Em algumas localidades, a proporção chega a 13 vezes, como é o
caso da Paraíba. “[Isso] revela um quadro agudo e extremamente grave”,
acrescenta. Em segundo lugar em relação aos homicídios de jovens negros
está Pernambuco, onde o risco é de 11,57 vezes maior, seguido de Alagoas
com um coeficiente de 8,75. O Paraná é o único estado onde a
vulnerabilidade relacionada ao homicídio é maior para os brancos, 71,2.
Para mudar esse cenário, o secretário nacional de Juventude defende
medidas de combate ao preconceito racial. “Temos estados em que a
situação é mais grave, portanto [há] a demanda de apresentação de uma
política, não só de uma política que chegue ao território, mas uma
política que consiga também ter um enfoque de combate ao racismo”.
Outro índice apresentado no relatório é o IVJ – Violência, que existe
desde 2008. Para esta edição, foram analisados 288 municípios com mais
de 100 mil habitantes. Os índices mais altos estão, mais uma vez, no
Nordeste onde, entre os 59 locais analisados, mais de 20 têm
coeficientes altos. A região com mais localidades analisadas foi a
Sudeste, onde os coeficientes foram os mais baixos. De 139 municípios da
Região Sudeste incluídos no indicador, só seis estão no grupo de muito
alta exposição de violência.
Para Samira, um conjunto de fatores leva a este resultado. “São as
condições socioeconômicas dessa população. São normalmente territórios
com Índice de Desenvolvimento Humano mais baixo, com problemas de evasão
escolar, renda per captaextremamente baixa. São territórios que, em
geral, concentram uma série de indicadores socioeconômicos piores que o
da média brasileira”.
Com relação à efetivação das ações do Juventude Viva, o secretário
nacional de Juventude admite que existem dificuldades no monitoramento,
pois o pacto é feito com os estados e depois com municípios. Segundo
ele, uma nova fase do programa está sendo elaborada e a ideia é que, ao
contrário do que ocorre hoje, o governo federal tenha mais participação
nas diretrizes de segurança pública, atribuídas atualmente, aos estados.
“Essa fase prevê uma PEC [Proposta de Emenda à Constituição] da
Segurança Pública que atribui à Federação mais responsabilidades em
organizar um sistema nacional que englobe toda uma estrutura nacional
que corresponsabiliza o governo federal com os estados e municípios pelo
enfrentamento da violência e pela discussão de segurança pública”,
destacou.
Para Gabriel Medina, a elaboração de indicadores como o IVJ são
essenciais para aprimorar o trabalho da secretaria. “Precisamos ter
índices e indicadores para que a gente possa enfrentar. Se a gente não
trabalha com eles, muitas vezes, nós não conseguimos aferir resultados
nos programas e iniciativas do governo”.
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