Numa semana em que a mídia tradicional turbinou a repercussão das manifestações “contra a corrupção” de domingo passado, o fato político realmente relevante aconteceu dentro do plenário da Câmara, quando o agora ex-ministro da Educação Cid Gomes (Pros) disse em alto e bom som que aquela Casa Legislativa abriga “achacadores“
– gente que só pensa em vantagem pessoal e partidária em vez de atuar
republicanamente na construção de uma sociedade equilibrada e de um país
que tenha como meta e missão a erradicação de toda forma de injustiça.
As declarações de Cid Gomes
mostram que a oposição ao governo federal também vive seu inferno
astral, em franca crise política, por escolher o caminho do quanto pior,
melhor. É inegável que a imagem dos parlamentares cronicamente
opositores está desgastada.
Mais além: ficou claro que Cid Gomes disse mais em um minuto de sua fala na Câmara dos Deputados do que o senador e candidato derrotado à Presidência Aécio Neves deveria dizer como oposição, mas nunca poderá nem conseguirá dizer.
O povo não entende a atuação dúbia do PSDB de atacar só o PT e poupar partidos da base governista como o PP e o PMDB.
O povo enxerga jogo de cena, acordos velados de bastidores e um velho
jeito de fazer política voltado a preservar privilégios só para os “amigos“. Privilégios que chegam à impunidade.
No fundo, Cid Gomes falou o que líderes da oposição, da qual Aécio
é a face mais midiática, teriam obrigação de dizer e, se dissessem até
poderiam melhorar suas chances nas urnas. Mas nunca veremos, ao fim dos
oito anos de mandato como senador que o tucano tem até 2018, ele fazer
um discurso como o de Cid, simplesmente porque tem “rabo preso“, por puro interesse político eleitoreiro.
A parte do PMDB e do PP que Cid Gomes classificou como de achacadores é aquela que apoiou Aécio em 2014. Alguns ostensivamente e outros, veladamente.
O episódio, que pode ter criado um embaraço para o Executivo, mas escancarou à população com que tipo de gente a presidenta Dilma está sendo obrigada a lidar, com o Congresso eleito pelo voto em outubro passado, começou com mais um fato ampliado pela mídia em sua ofensiva golpista.
Cid Gomes havia feito uma avaliação em ambiente restrito criticando a
parcela de deputados que, segundo ele, usava seus mandatos para
emparedar o governo e obrigando-o a acatar suas demandas, desejos e
vaidades, ainda que em prejuízo do país e da sociedade brasileira.
A declaração vazou para a imprensa, tornou-se pública, resultou em editoriais e bravatas, abriu uma crise entre o então ministro e a Câmara dos Deputados, que o convocou para “explicar-se“, em mais um evento que se previa um espetáculo para a televisão.
Cid Gomes, porém, disse respeitar o Parlamento, mas repetiu, agora
publicamente, todas as críticas aos que se aproveitam de compor a base
aliada do governo, com seus partidos nomeando ministros e secretários,
mas agem como oposição.
Disse muito claramente que os partidos que desejam fazer oposição deveriam “largar o osso“. Chegou a dirigir-se diretamente ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), respondendo que preferia ser chamado de mal-educado do que de “achacador“, como Cunha estava aparecendo nas manchetes dos jornais.
A confusão foi grande com deputados que vestiram a carapuça e usaram termos ofensivos contra o ex-ministro. Cunha,
com sua aversão crônica pela democracia, cortou o microfone de Cid, que
retirou-se da Casa. Ao sair, em entrevista, reiterou o que havia dito e
defendeu os esforços da presidenta Dilma para tentar qualificar a política e da árdua luta para a combater a corrupção em ambiente adverso.
Em seguida pediu demissão pelo “sincericídio“, pois é óbvio
que, por mais que muita gente pense igual à ele, é impossível ter
responsabilidade de governar e, ao mesmo tempo, declarar guerra aberta e
pública à boa parte de base governista na Câmara.
Cid Gomes vocalizou o que a base eleitoral de Dilma Rousseff nas ruas e nos lares brasileiros vive. A sensação de que o Congresso, de forma generalizada, está pouco ou nada se importando com o eleitorado. E que nada barrará a oposição capitaneada por PSDB e DEM para atingir seus objetivos políticos.
Helena Sthephanowitz, RBA
Nenhum comentário:
Postar um comentário