O anúncio feito nesta quinta feira (09) no Macapá Hotel, do apoio do senador eleito Davi Alcolumbre (DEM) à reeleição do governador Camilo Capiberibe com direito a confetes e serpentinas de parte do PSB e do PSOL não contou com a comemoração do PT e do PCdoB local, aliados de primeira hora de Camilo e Dilma no Amapá.
Davi Alcolumbre que pertence à uma das famílias mais ricas e poderosas do Amapá e que historicamente sempre foi aliada de Sarney e silenciou durante oito anos para o descaso do governo da harmonia de Waldez Góes, pode ser analisado como uma descaracterização programática da aliança batizada em 2010 de Frente Popular e que foi encabeçada no primeiro turno daquelas eleições pelo PSB e o PT.
A concepção de Frente Popular seria reunir todas as forças de esquerda e progressistas para derrotar a corrupção e o atraso, mas a adesão do DEM de Davi Alcolumbre, um partido notoriamente defensor do atraso e do conservadorismo brasileiro que sempre combateu conquistas sociais e que tem sua gênese como partido que apoiou e defendeu a tortura e a ditadura militar no país.
O DEM de Davi Alcolumbre já foi Arena e o antigo PFL, que durante anos foi comandado pelo ex-governador Anibal Barcellos, que foi nomeado governador "biônico" do ex-território pelos militares que deram o golpe em 1964. A turma de Barcellos durante anos combateu o PSB, o PT, movimentos sociais e setores progressistas que durante anos lutaram contra a "herança maldita" do grupo de Barcellos de se apropriar do orçamento público e governador para as elites locais.
Essa herança barcellista foi aprofundada durante a gestão do ex-governador Waldez Góes e contou com o apoio do grupo do antigo PFL, hoje o DEM de Davi Alcolumbre, que agora declara apoio ao governador Camilo Capiberibe, revelando verdadeiras contradições e o pragmatismo das alianças espúrias do PSB e do PSOL de atrair setores da direita para o seu palanque, pois algo parecido aconteceu na campanha de Clécio Luis no segundo turno, algo que foi muito criticado pelo PSB de João Capiberibe.
O fato é que o PT e o PCdoB que foram aliados de primeira hora do governador Camilo Capiberibe não se sentem muito a vontade de dividir o mesmo palanque de Davi Alcolumbre que foi eleito pelo Amapá e que claramente deverá fazer oposição sistemática ao PT caso a presidente Dilma Roussef seja reeleita.
Mas não é somente isso que causa fissuras dentro da Frente Popular, pois a família Alcolumbre não entra em bola dividida e pra apoiar Camilo Capiberibe deve ter feito seus pleitos, pois os mesmo sempre cobraram privilégios em governos que apoiaram.
Camilo Capiberibe pode ser reeleito para um segundo mandato com uma aliança ampla e com seu governo comprometido com setores da direita local que querem um pedaço do estado pra satisfazer a sua gula por mais riqueza e isso a família Alcolumbre nunca escondeu de ninguém, pois não apoiam o atual governador porque viraram revolucionários de esquerda ou socialistas, mas porque os seus interesses podem ser atendidos pelo Setentrião.
Em tempo: Leia abaixo artigo publicado no blog da jornalista Alcilene Cavalcante (PSB? PSOL?), escrito por este blogueiro no ano de 2009 defendendo a formação da Frente Popular na eleição de 2010. Na época o PSOL de Randolfe boicotou a Frente e decidiu abraçar Lucas Barreto (PTB), que era claramente apoiado por Sarney.
O Papel da esquerda e uma Frente Popular para 2010
Alcilene Cavalcante em 17 de setembro de 2009
*Por Heverson Castro
A Frente Popular foi uma prática política surgida a partir da década
de 30, que implicava na formação de uma coalização temporária entre a
classe operária, organizada em partidos e sindicatos comunistas e
social-democratas, por um lado, e parte da pequena e média burguesia
democrático-liberal, por outro, com o objetivo de conquistar uma maioria
parlamentar para realização de um programa conjunto.
Orientada de inicio contra as ameaças nazi-fascistas, foi também
organizada para por fim ao poder da burguesia conservadora e seus
aliados, na defesa da democratização econômica e política de determinada
formação social.
A Frente Popular, sem constituir-se num movimento revolucionário,
atuou nos marcos da legalidade, buscando a participação mais ampla das
camadas populares no processo de decisão econômica e política, cuja
estratégia é a consolidação e estabilização da democracia parlamentar e
da economia capitalista.
Em alguns países, a Frente Popular possibilitou a ascensão ao poder
das forças de esquerda, como na França em 1934 sob o governo presidido
por Léon Blum, na Espanha em 1935-36 do governo Alcalá Zamora, e no
Chile em 1970 com a vitória eleitoral de Salvador Allende.
É claro que o debate de se construir uma Frente Popular deve ser
atualizado e adaptado para a atual conjuntura estadual. Nesse sentido
essa frente, que será formado por partidos de esquerda e progressistas,
movimentos populares, sindicatos, Centrais Sindicais, setores da classe
média, movimentos populares, estudantis e a nossa intelectualidade, deve
ser alvo de um grande debate na esquerda amapaense.
O debate de enfrentamento, também se dará com as novas formas de
organização, que questionem a hegemonia da mídia oligarca. É onde entra o
fortalecimento das mídias alternativas: jornais, blogs, sites, twitter e
todas as ferramentas da internet que estejam em sintonia com o debate
de democratizar a comunicação. É preciso não esquecer o papel importante
das rádios comunitárias e de instrumentos de agitação e propaganda de
rua, que deverão estar afinados com as mobilizações de ruas contra a
direita local.
A Frente Popular deverá ter como tarefa principal unir as diversas
forças de oposição para as eleições de 2010, tendo como foco o programa
de derrotar o projeto da direita, alicerçado no governo Waldez e bancado
por Sarney.
As forças de oposição devem avançar no debate sobre a Frente Popular
com partidos e forças políticas que tem posições divergentes, mas que do
ponto de vista local, podem e devem estar inserido em um programa que
derrote a atual hegemonia da direita construída a partir do parlamento
(camara, senado e assembleia), do executivo (governo e prefeituras),
judiciário e a imprensa conservadora, que propagandeia e defende esse
projeto de poder.
Na atual conjuntura as forças de esquerda encontram-se dispersas e
sem a mínima unidade, tendo setores importantes cooptados pelo grupo de
poder que controla o estado. Isso deve ser alvo de reflexão, tentando
aliar as divergências ideológicas, sem perder o foco de sairmos
vitoriosos em 2010.
Nesse sentido, os partidos de esquerda que terão candidaturas
nacionais, que estarão em enfrentamento, deverão ter a maturidade
política, de saber que o Amapá é uma exceção e que aqui é mais difícil
derrotar Sarney, Waldez e as oligarquias locais. Temos que refletir,
percebendo o papel que esses senhores desempenharam nas eleições de
2008.
Em 2008, a direita conseguiu vencer no poder econômico a prefeitura
da capital e sofreram uma grande derrota para a esquerda em Santana,
onde o PT saiu vitorioso em uma aliança com o PSB, PCdoB, PMN e outros
partidos, defendendo um programa de centro-esquerda. Ganharam no
dinheiro a capital, sofreram uma grave derrota política e perderam o
segundo maior colégio eleitoral do estado.
Diante disso, devemos colocar o restante do ano de 2009 e inicio de
2010, como um período de mobilizações sociais e acúmulo de forças.
Assim, a Frente Popular terá como tarefa central:
- Formular um Programa de Governo Democrático e Popular que será apresentado e discutido com o povo do Amapá em 2010.
- Derrotar a hegemonia política do grupo de poder que controla o executivo e o legislativo. Hoje esse grupo de poder tem o apoio incondicional da mídia conservadora e de amplos setores do judiciário, o que torna essa tarefa mais difícil, precisando de muito embate ideológico e mobilização social.
Heverson Castro – é membro do Diretório Municipal do PT de Santana e blogueiro.
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